Fernando Dumas, grande acadêmico brasileiro, concede entrevista onde fala de saúde pública.

17/01/2007

FERNANDO DUMAS, carioca, Historiador, Graduado em Mestrado e Doutorado pela UNICAMP, Pesquisador da Fundação Osvaldo Cruz no Rio de Janeiro, trabalha com a cultura popular, práticas terapêuticas populares, plantas medicinais, atuação na direção e produção de vídeos documentários. JN: Faça uma pequena explanação sobre os assuntos que foram abordados no curso sobre saúde pública, ministrado por você em Jequié, nos dias 13 e 14 deste mês. Dumas: Trabalhei com uma abordagem histórica da saúde, começando com a formação da idéia de medicina social e cientifica, com a criação dos hospitais de uma forma geral, e a partir daí, trabalhei com o Brasil na história da medicina, no desenvolvimento dos conhecimentos médicos nos séculos XIX e XX, e principalmente por ser minha linha de pesquisa já há muito tempo, mostrei sobre as praticas terapêuticas populares, onde trouxe vídeos (um deles dirigido por mim), que abordou estas questões das práticas populares na Amazônia. JN: Por que a escolha de Jequié para ministrar este curso? Dumas: Eu é que fui escolhido. A FTC (Faculdade de Tecnologia e Ciências) me fez o convite para dar este modulo aqui. A partir deste meu trabalho e do conhecimento de pessoas como Aparecida Tavares, da coordenadora de pós-graduação, Vanda, onde participamos de vários congressos juntos, foi feito o convite. JN: Surgiram alguns casos de sarampo em nosso Estado. Doença que há muito tempo pensava-se estar banida na Bahia. Como o senhor avalia esta situação; erro no controle e monitoramento pelo governo ou algo fatídico? Dumas: Algo fatídico. Tomei conhecimento deste fato através de jornais e inclusive alguns recomendam que todos que vierem para a Bahia devem se vacinar, porque a imunidade da vacina se perde com o tempo. Desde o ano 2000 o Brasil não registrava casos novos de sarampo, a hipótese que as autoridades estão trabalhando é que o sarampo chegou por um estrangeiro que visitou a região de Minas Gerais (uma mineradora) próximo ao norte da Bahia, e a partir daí os casos começaram a acontecer e a doença se espalhou. Não há falha no controle no Brasil, a questão da vigilância sanitária é uma área que realmente funciona, inclusive o nosso país é considerado modelo para o mundo nas campanhas de vacinação e erradicação de doenças. Foi realmente uma fatalidade. JN: Correlacionado saúde publica e desigualdade social no Brasil, como imaginar o futuro dos mais carentes nos anos que virão? Dumas: É complicado. Eu acredito muito nas ações políticas do governo Lula, acho que com todos os problemas que houveram de corrupção, praticas políticas que não se tolera, ainda acho que do ponto de vista da desigualdade social este governo trouxe um avanço real, concreto. Tivemos uma diminuição da quantidade de famílias passando fome, diminuição de pessoas vivendo abaixo da linha da miséria, redistribuição de rendas no país, digo estas afirmações baseado nas pesquisas de um órgão como o IBGE, que é confiável. De qualquer forma o Brasil tem uma historia de desigualdade social, certamente quatro ou oito anos não vão bastar para resolver. Do ponto de vista das ações de saúde, acho que há uma falha gravíssima, e aí o governo Lula não se desenvolveu em relação a isto. Existem projetos que neste segundo mandato talvez se desenvolvam, que é sobre o saneamento básico, e isso é fundamental, pois dando acesso a água e esgoto tratados a 100% da população ou muito próximo disso, se erradica 90% das doenças mais comuns. Esta é uma ação do governo que precisa ser tomada. Eu acredito que vamos chegar a um nível aceitável de desenvolvimento social em relação à desigualdade. Acabar como ela não existe, isto é pressuposto do capitalismo, as próprias tentativas de socialismo fracassaram porque se baseiam em praticas capitalistas. Nós não temos um modelo que rompa com as desigualdades, mas acho que dar para diminuir, sou otimista em relação a isto.