Tratamento aos doentes mentais e descriminalização das drogas, são os assuntos tratados por Virna Lelis.

08/06/2011

Recentemente tive uma aula muito boa de Psicologia e Políticas Públicas, com a professora Gleicimara Queiroz, cujo tema foi a Reforma Psiquiátrica. Tudo o que discutimos lá, mexeu bastante comigo e me deixou algumas inquietações. Falamos sobre a criação dos CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e toda rede de instituição substitutiva, onde é desenvolvido um trabalho de grande valia e qualidade com os doentes mentais. Verdade que existem CAPS atuando com poucos recursos e, infelizmente, com profissionais descomprometidos, aqueles que vão somente para "assinar o ponto", aquele que não sabe o que é dar o melhor de si em prol do outro. Mas, o surgimento dessas redes são demasiadamente significativas para que haja a desmistificação do doente mental e que ele possa ser verdadeiramente inserido na sociedade. Sabemos que o cuidador desse doente é alguém sobrecarregado, muitas vezes não suporta o fardo que o doente traz a família e precisa desse apoio, não para "curar", mas para dar direito a esse indivíduo de pelo menos ser aceito como um cidadão e exercer essa cidadania. É lamentável que em pleno século XXI, ainda existam sanatórios e qualquer outro tipo de instituição total, que são presas a estereótipos, reduzidas a regressão do indivíduo, isolando-o da sua singularidade. Como alguém pode entender que um manicômio pode "restituir" a saúde de alguém? O alguém que chega lá com um nome, com uma bagagem de vivências, experiências e simplesmente, a partir daquele momento, tudo isso é amortecido, prevalece sua patologia, seu número de série, suas roupas iguais as dos outros. E sua identidade, e sua subjetividade? Sei que a loucura provoca medo na sociedade, mas, ao meu ver, temos que nos questionar o porquê desse medo, o que fazemos com ele, onde o guardamos e porquê guardá-lo? Se você é alguém que se diz "normal", deveria ser perguntar o que faz de saudável para a construção de uma sociedade mais justa. JUSTA NOS DIREITOS! Inserir o louco na sociedade, aceitando suas limitações e aprendendo a conviver com elas, não é fácil, ninguém diz que é. Mas é o mínimo que poderiamos fazer para que haja mudança. Para que o outro mude, precisamos começar a mudar primeiro, não adianta cobrar e ficar de braços cruzados. AVANTE A LUTA ANTIMANICOMIAL! Outra coisa que me incomoda bastante e que também foi pauta da aula, é sobre a reportagem que passou no Fantástico (dia 29/05). Fernando Henrique Cardoso falou sobre um documentário que ele está participando e que aborda a DESCRIMINALIZAÇÃO das drogas, sobre LIBERAR a maconha e não LEGALIZAR. Sei que isso é "tabu", assunto complexo, provoca discussões, mexe com cultura, envolve religião... Mas preciso dizer que achei excelente aquela matéria. O Brasil vem gastando milhões com o combate de droga e não obtém êxito algum, ao contrário, perde-se jovens cada vez mais jovens e a criminalidade só intensifica. O papel da Psicologia não é se posicionar contra ou a favor. Não é dizer: "não use drogas". O importante é a INFORMAÇÃO e como essa informação chega até o jovem. Droga deve ser algo bom, caso contrário, não viciaria, mas as consequências que ela proporciona são desagradáveis. Como disse Paulo Coelho nessa mesma reportagem:"Droga é ótimo: mas saiba que fazendo uso contínuo, você vai perder seu poder de decisão." Entendam que não sou a favor das drogas e passa longe de minha intenção fazer apologia as mesmas. Sou totalmente contra qualquer tipo de vício, mas entendo, assim como o FHC, que estamos não só "enxugando gelo", mas também "dando murro em ponta de faca", "tampando o sol com a peneira" e outras metáforas semelhantes. Por isso, é preciso se conscientizar, antes de mais nada, para depois conscientizar o outro. Ler mais e saber julgar corretamente. Não adianta se esconder por trás de uma máscara, uma religião, uma ideologia. A maconha é acessível a qualquer jovem, não seria solução aprisionar esse jovem, tem que mostrar as opções e dialogar sobre as alternativas.Tem que ser tudo muito claro, omitir até quando? Virna Lélis E-mail: [email protected] Estudante do 7 semestre de Psicologia na Unime/Itabuna-BA.