Professora Claudenice Barbosa nos fala sobre a educação de Jequié e da Bahia.

27/06/2011

Claudenice Barbosa Santana é licenciada em Pedagogia pela UESB, Professora da Rede Municipal de Ensino, Diretora Geral da APLB- (Sind. dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia) Delegacia Sindical do Sol/Apromuje e Vice Diretora da Regional Centro Oeste da APLB-Sindicato. JN: Recentemente houve uma publicação por parte da APBL/Jequié que professores da rede municipal de ensino da cidade vêm sofrendo de doenças ocupacionais, e estas aumentam a cada dia. A senhora poderia esclarecer o que vem ocorrendo? Claudenice Comprovadamente, por falta de condições de trabalho, o professor vem sofrendo de algumas doenças ocupacionais, como transtornos mentais e da voz, stress, LER DORT, dentre outros. Essas doenças se apresentam como distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedida de esgotamento físico e mental intenso, cuja causa está intimamente ligada à vida profissional e, através de estudos, conhecida como a Sindrome de Burnout. Aqui, no município de Jequié, esses problemas vêm se agravando pela ausência de uma política pública voltada para a prevenção da saúde do trabalhador em educação, pois, vários casos foram constatados. Aliado a isso, a administração municipal não instituiu a junta médica, que dentre as prerrogativas é a comprovação ou não da enfermidade e o encaminhamento correto para o tratamento, com o afastamento temporário, readaptação ou aposentadoria por invalidez desses profissionais. Contrariando essa situação, tem contribuído para aumentar a fragilidade desses profissionais, pois, ao invés de cuidar, de instituir os mecanismos legais de amparo aos mesmos, pratica cortes nos seus salários, e, em outros casos, professores são “obrigados” a retornar ao trabalho sem condições. JN: Hoje em dia o assunto principal na educação brasileira é o bulling. Já existe algum movimento nas camadas administrativas seja do governo ou do próprio sindicato em tentar minimizar a ocorrência desta violência contra as crianças e adolescentes da Bahia? Claudenice Bullying é um assunto que vem sendo discutido de dois anos para cá, e é uma preocupação constante na comunidade escolar. O bullying é uma forma de assédio entendido por alguém que está de alguma forma, em condições de exercer o seu poder sobre uma pessoa ou sobre um grupo mais fraco. A APLB-Sindicato fez uma cartilha e está distribuindo entre os profissionais da educação com o intuito de facilitar o debate sobre o bullying em todas as escolas. No entanto, desconhecemos a existência de movimento por parte do governo para minimizar a ocorrência desta violência contra as crianças e adolescentes de Jequié e da Bahia. JN: A educação brasileira passa por um momento de grande dificuldade quando o assunto é o quantitativo de professores. Segundo pesquisa, isto se deve a baixa remuneração empregada à profissão letiva. Como se encontra atualmente o quadro de professores em Jequié? E como a senhora, uma professora, enxerga esta situação no nosso Brasil? Claudenice Com o objetivo de corrigir as distorções salariais existentes no estado brasileiro, o governo instituiu, em 1996, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério-FUNDEF, hoje, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização do Magistério – FUNDEB. Houve certo avanço considerando que as verbas da educação passaram a ser verbas carimbadas, apesar de gestores ainda conseguirem burlar a lei. Paralelo ao novo fundo, os educadores brasileiros obtiveram uma grande vitória quando da aprovação da Lei do Piso Salarial Profissional Nacional. Entretanto, a luta dos sindicatos e dos educadores pela implantação do piso salarial nos estados e municípios tem sido muito grande, vez que muitos gestores têm dificultado, de diversas formas, a sua implementação. Mesmo com os mecanismos legais, muitos gestores vêm corroborando para a desvalorização profissional dos educadores, com a baixa remuneração, o que tem contribuído para a baixa auto-estima e a desistência da profissão. O quadro de professores em Jequié está defasado. O último concurso público foi realizado no ano 2000. De lá para cá, o que vem ocorrendo é a precarização do serviço, considerando que as formas de ingresso no serviço público municipal, adotadas pelo governo, é a contratação temporária através do REDA, contratação de estagiários e outros. Com isso, percebemos que a educação continua como política de mandato, de governo. E essa concepção é danosa para as crianças, jovens e adultos que convivem com a Escola Pública. JN: Falando um pouco mais sobre a nossa cidade, atualmente como está a situação entre governo municipal e a APLB? Todas as reivindicações já foram sanadas desde a última paralisação? Claudenice A APLB-Sindicato é o legítimo e intransigente defensor dos trabalhadores em educação e da Escola Pública. Nos seus 59 anos de história e luta sempre se pautou pela defesa da democracia, independência e da autonomia. A APLB vem cumprindo o seu papel reivindicatório por condições dignas de trabalho, garantia de direitos conquistados. Nesse governo, a APLB e os educadores foram protagonistas de duas greves com duração de 29 e 34 dias respectivamente, ambas pela implantação do Piso Salarial e condições de trabalho. Só conquistamos o salário mínimo como piso. Infelizmente, o governo não tem compreendido o papel do sindicato. Com isso, tem usado de meios antidemocráticos (exoneração de professor que desempenha função de diretor, vice-diretor, corte nos salários) como forma de punição aos educadores que participaram do movimento grevista, não tem recebido o sindicato em audiência específica para dar continuidade a pauta de reivindicação da campanha salarial 2010/2011. Entretanto, não obstante a toda essa situação, a APLB continua firme nos seus propósitos, com autonomia e independência, cobrando da administração municipal respeito e valorização à educação e aqueles que contribuem, efetivamente, para o desenvolvimento do nosso município que são os profissionais da educação.