População opina sobre a alternância constante na gestão do Município de Jequié.

14/08/2016

(Afastada há três meses após suspeitas de irregularidades na Educação, a prefeita de Jequié, Tânia Britto (PP), reassumiu o cargo – no dia 09/08 - após decisão do Tribunal de Justiça da Bahia. Ela deixou a gestão em maio deste ano, após a Justiça entender que a permanência da gestora no cargo poderia atrapalhar as investigações. Desde o afastamento, a gestão era ocupada pelo vice-prefeito do município, Sérgio Suzarte. Outro afastamento Em dezembro do ano passado, a prefeita Tânia Britto foi afastada do cargo por determinação do juiz responsável pelo processo, mas a defesa recorreu e a prefeita voltou ao cargo.) JN: Qual a sua avaliação sobre essa alternância constante na gestão municipal de Jequié? 1 - João Valci (Professor de Literatura): Vejo com muita preocupação a atual situação política pela qual passa a nossa cidade de Jequié. É lamentável o modelo de gestão pública praticado pelo executivo municipal nas últimas décadas. Aliás, é importante lembrar que quase sem exceção, nossos representantes têm adotado determinadas práticas que estão em desacordo com as competências que regem a obrigatoriedade de qualquer cargo público, isto é, a maioria dos gestores municipais têm trabalhado em causas próprias em detrimento das prioridades coletivas. Infelizmente é fato, é público e notório. Por tudo isso, o meu sentimento de desapontamento talvez seja também o de outros tantos jequieenses, que andam estarrecidos ante o reflexo da “politicagem partidária” que desabona “amarelos” em prol de outros tantos “azuis” (ou vice-versa), como se nós eleitores de voto vencido apenas compuséssemos uma confirmação desse sujo tabuleiro de xadrez, mas ao mesmo tempo incapazes de saber o que é que o verdadeiro tabuleiro da baiana tem. E, olha que deve teve ter muito caroço nesse angu! Mas, como todo bom brasileiro em época de Olimpíadas (aqui também de quatro em quatro anos) deixo minha mensagem de otimismo: “não devemos desistir nunca!” E, nunca quer dizer jamais mesmo. Se o bordão ao todo não é verdadeiro, ao menos minimiza nossa culpa para a escolha das futuras opções do pleito eleitoral. Afinal, não se trata de uma simples mudança de cor, de número e\ou slogan, mas fundamentalmente do modelo de administração pública a ser executada, onde as expressões de efeito retórico: EDUCAÇÃO, SAÚDE, HABITAÇÃO e SEGURANÇA, deixem de ser apenas recursos estratégicos do discurso político para se tornarem prioridades da gestão municipal. 2 - Marluce Galvão Barretto (Bióloga e Professora): Vejo esse efeito “ioiô” com muita preocupação. Tal situação tem provocado caos na administração pública, pois os serviços essenciais são paralisados, possivelmente atrasos nos pagamentos dos salários dos servidores e fornecedores e demissões em massa, além de insegurança jurídica. A população civil, a mais prejudicada, pouco pode fazer no momento. A nossa maior arma, o voto, deve ser consciente e livre. Por uma Jequié livre e democrática. 3 - Júlio Pereira Lucas Neto (Servidor público, poeta e cronista): Não sou especialista em leis, mas não é necessário ser jurisprudente para entender que esta situação de instabilidade, insegurança, desrespeito e ingerência, a que a população de Jequié tem sido submetida, é uma grande injustiça para o bem comum. Estamos falando de mais de cento e sessenta mil pessoas sem saber como será seu dia seguinte. Inadmissível que nossa legislação não possua ferramentas para evitar estes transtornos que fazem dos anseios do povo joguete de pingue-pongue. Influências político-partidárias e interesses particulares não devem prevalecer em detrimento do bem da coletividade. Mesmo porque, o papel das leis e das instituições políticas é exatamente o de ser eficaz na garantia do bem-estar da sociedade e não o contrário como temos vivenciado em nossa comunidade: excesso de liminares, que aos olhos do cidadão comum parecem ser contraditórias, ora beneficiando um grupo político ora beneficiando outro, enquanto o cidadão é prejudicado no seu cotidiano. 4 - Dalva Rebouças (Psicanalista Clínico): Na minha opinião, a legislação brasileira deixa brecha para que os políticos oportunistas se valham de variantes em benefício próprio, desconsiderando todo o conteúdo de responsabilidades para com os cidadãos e descumprem desavergonhadamente todas as suas atividades na administração pública. Em Jequié ocorre exatamente assim. Uma candidata foi eleita por meios "legais", descumpriu totalmente o seu plano de governo, negligenciando as aplicações dos recursos públicos, sai por ordem judicial e volta também por ordem judicial... Ao povo, nenhum respeito; ao município o descaso absurdo! 5 - Saulo Correa (Perito Criminal e Consultor Empresarial): A instabilidade política e o desmantelo da imagem da gestão pública municipal começaram desde o início da gestão Tânia Brito, com as diretas e escancaradas intervenções externas, e vem se agravando progressivamente, até o verdadeiro cenário “circense” atual. A crise que combina causas e efeitos políticos e econômicos sem precedentes, ameaça cada vez mais a produção, o emprego e a renda, já chegando a comprometer o futuro econômico municipal, ao menos no curto prazo. Todo dia surgem novos impulsos direcionados ao agravamento da crise, culminando com o recente retorno da nossa desastrosa gestora ao poder. Com fortes repercussões em todas as esferas, as consequências dos grandes escândalos que vem sendo desvelados - como os de contratos superfaturados, consultorias de fachada, aluguéis de veículos em números questionáveis, trocas de favores com vereadores etc. - não param de surgir e de se multiplicar, afetando cada vez mais os orçamentos das famílias, principalmente as situadas na base da sociedade. Um exame, mesmo que superficial, do momento vivido após essa “dança das cadeiras” no vértice executivo, dá bem uma ideia do quadro geral. A situação inédita parece questionar a solidez e correção das instituições vigentes e a nossa maturidade democrática, difundindo perigoso descrédito sobre a democracia e sobre o pluripartidarismo, além de lançar suspeita sobre a imparcialidade do judiciário estadual. No Estado Democrático de Direito, nenhum ato público é exclusivamente jurídico ou político, bem como nenhum ato político pode estar à margem do controle de sua legalidade. No entanto, isso não implica em uma atuação política do Tribunal de Justiça, mas em impedir que a natureza política de um ato institucional sirva para isentar do controle judicial seu conteúdo materialmente ilegal. Nesse sentido, o evidente esforço de ações fundamentadas do Ministério Público tem esbarrado na sólida parede do protecionismo político, que parece alcançar, enfim, os três poderes… Até quando o interesse individual sobrepujará o interesse coletivo? Até quando nossos impostos servirão para enriquecer costumeiros políticos corruptos e seus afetos? Até quando ficaremos à mercê de gestões irresponsáveis, pessoalíssimas e ineficientes? Até quando Jequié suportará tanto desmando, impunidade e desperdício? Infelizmente, acredito que ninguém saiba responder. Mas são perguntas que, mais do que nunca, anseiam por respostas rápidas! Respostas que podem ser dadas nas urnas, mas que não terão efetivo efeito se não vierem acompanhadas de uma nova postura de exercício coletivo de cidadania. Carecemos de uma mudança cultural imediata. Nossa estrutura social precisa de profunda reengenharia. É um cenário realmente desanimador, mas precisamos manter a chama da esperança acesa nesse período de trevas. Como disse Edmund Burke, “Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada”. Que os bons filhos de Jequié, cidadãos de bem, possam acordar e tomar para si nossa tão amada terra natal, para trata-la como ela merece. 6 - Adriana de Oliveira Gomes (Gestora da Escola Nova Cultural): Diante desta questão de mudanças constantes da gestão da nossa cidade, acho vergonhoso, pelo fato de procedimentos como esse ser semelhante a times de futebol que troca com frequência de técnico. Assim demonstra falta de respeito para os eleitores com atitudes que não levam em conta o bem comum da comunidade.