Poeta e escritora, Zilda Freitas, bate um papo interessante conosco.
24/10/2013
JN: Quem é Zilda de Oliveira Freitas?
Zilda: Sou uma educadora que gosta de escrever poesias. Vivi minha adolescência em Natividade, região de montanhas silenciosas e gente tranquila, no interior do Rio de Janeiro. Outra opção cultural não havia, além da imensa biblioteca da minha família, que era também o nosso ponto de encontro nos finais de tarde. O gosto pela leitura e minha educação literária surgiram nesta época, para depois se tornar minha profissão.
JN: No dia 30 deste mês você lançará o livro Mito e Identidade Nacional na Poética de Fernando Pessoa. Fale um pouco dessa nova obra.
Zilda: Fernando Pessoa escreveu 37 mil poemas nos 47 anos que viveu. Se acrescentarmos as peças de teatro, os roteiros de cinema, as cartas e outros apontamentos, temos cerca de 100 mil textos escritos por Fernando Pessoa. Desta obra gigantesca, extraí apenas um poema intitulado Ulysses e sobre ele escrevi minha tese de doutorado. São quase 500 páginas sobre um único poema de Fernando Pessoa e acredito que ainda há muito mais a ser comentado. O livro que ora lanço em Jequié é um estudo crítico e sintético sobre as minhas ideias a respeito da obra Mensagem, na qual se insere o poema Ulysses.
JN: Fernando Pessoa escreveu sob múltiplas personalidades. Os seus personagens tinham vida, possuíam personalidade própria. Você acredita que essa característica marcante de Pessoa é própria dele ou é do ser humano, que muitas vezes se esconde em “máscaras” do seu cotidiano?
Zilda: Fernando Pessoa exercitou o jogo de máscaras com tamanha genialidade que até nos faz esquecer que autores anteriores a ele também utilizaram máscaras, também possuíam heterônimos. É o caso dos escritores portugueses Almeida Garrett e Eça de Queirós, de filósofos como Kierkegaard e de todos nós, seres humanos e narradores de nossa própria história. Todos nós utilizamos máscaras, principalmente em nossas relações sociais, quando o mascaramento é uma questão de resistência e aceitação social.
JN: Em sua opinião, o que falta para a poesia ser mais divulgada na sociedade?
Zilda: A poesia está em nosso cotidiano. Está presente no sorriso de uma criança, no barulho da água de uma cachoeira, nas cores de um pôr-do-sol. Mas a vida agitada que levamos não nos deixa tempo para perceber que tudo é poesia e há poesia em quase tudo. É aí que está a importância dos pais e dos professores. Conviver com bons leitores [pais, professores] pode despertar em nós a sensibilidade para gostar de ler e compor poesias. A sociedade [que somos todos nós] precisa reservar espaço para divulgar poesia, principalmente a obra dos novos poetas. A sociedade deve entender que a poesia é o que nos humaniza. Sem a arte, nossa cultura empobrece e nos tornamos pessoas insensíveis à beleza. Portanto, o que falta para poesia ser mais divulgada são pais e professores que incentivem as crianças a lerem mais, lerem sempre, lerem sem preconceitos todo o tipo de livros para, aos poucos, montarem sua própria biblioteca pessoal. Um questionamento: quantas casas você conhece que possuem bibliotecas maiores do que a tela da televisão? Casas com grandes bibliotecas sinalizam que ali certamente moram bons leitores.
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