Para o Mês da Mulher, Cida Cabral nos concede uma interessante entrevista. Confira.

12/03/2010

Maria Aparecida Cabral Tavares de Santana é doutoranda em Saúde Pública do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA). Assistente Social do HGPV – SESAB. Voluntária da AAGRUTI (Associação de Amigos Grupos de Convivência e Universidade Aberta com a Terceira Idade). Mãe de Martinha, Mura, Bruninho e avó de Igor. JN: Observando hoje em dia a realidade da Mulher no Brasil, vemos que já houve um avanço positivo em relação à discriminação na vida política e principalmente no mercado de trabalho. No seu ponto de vista, quais mudanças ainda precisam acontecer? Cida: As mulheres ganharam os mesmos direitos trabalhistas que os homens a partir da Constituição de 1932 no Governo Vargas, além de conquistarem o direito do voto e a cargos políticos do executivo e legislativo. Observamos que neste longo período e ainda no Sec. XXI temos discriminação explícita quanto à remuneração, quando comparadas aos mesmos cargos desempenhados pelos homens, sem falar nas horas trabalhadas e ocupação de cargos. A grande questão quanto às mudanças, que eu acredito que precisam acontecer, vem principalmente decorrente da questão cultural em nosso país. Apesar de as mulheres, a partir da década de 80, estarem buscando melhorar a escolaridade, acesso a cursos superiores e a especialização em diversas áreas, ainda têm-se observado a mentalidade do que é “função da mulher”, além de trabalhar fora de casa, ser responsável direta pelo trabalho doméstico, educação dos filhos e “cuidar” do marido. Em outras culturas, outros países mesmo da América Latina estamos assistindo a uma atividade coletiva quando se trata de trabalhos domésticos, do Lar, os homens geralmente participam, mas no Brasil, infelizmente, isto não é realidade, gerando uma sobrecarga de trabalho para a mulher, resultando numa determinada forma de abuso. JN: Qual o papel da AAGRUTI para as mulheres da terceira idade em Jequié? Cida: Estamos assistindo em Jequié a um fenômeno único na Bahia que é o aumento na expectativa de vida para pessoas acima de 60 anos, fato que ultrapassa o percentual da média nacional. A AAGRUTI trouxe visibilidade a estas mulheres (98% dos integrantes da associação). Além de ocorrer um processo de socialização, pois as pessoas idosas viviam segregadas, sempre em casa e sem atividade(s) alguma voltada para seu interesse, surge a AAGRUTI com seus Grupos de Convivência, compostos de 1.800 membros aproximadamente. Atualmente, estruturada com diversidade religiosa, cultural e de classe social, realizando eventos planejados sistematicamente, organizados, voltados não só para o Lazer, Cultura, mas para a Promoção da Saúde da Pessoa Idosa, inclusive com cursos que visam a Geração de Renda, possibilitando um Envelhecimento Ativo preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). JN: Neste Mês da Mulher, qual mensagem você manda para as inúmeras mulheres que ainda sofrem discriminação e acabam esbarrando na baixa autoestima causada pelo preconceito. Cida: A todas as mulheres que sofrem ainda de todos e qualquer tipo de preconceito: racial, religioso, cultural, institucional, ou mesmo que sofram de violência seja física ou psicológica, sexual ou mesmo violência velada, simbólica que tanto nos machucam e faz sofrer, por favor, não fiquem caladas, silentes. Busquem coragem e não se permitam enfraquecer, pois o gênero feminino já no ventre é guerreira, luta pela vida como todas as Marias, Amélias, Isauras, dêem a volta por cima, nosso gênero é de luta sempre, por nós mesmas, por nossos filhos, por nossos desejos e sonhos. E tenham sempre Fé. Acreditem sempre! Concluo com o poema de Cora Coralina: “Não te deixes destruir... Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas. Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça! Faz de tua vida [...] um poema” . “Você pode, deve e sabe como, é preciso coragem e força”.