O tal “jeitinho brasileiro”. Por Carlos Éden Meira.

12/02/2013

Acostumou-se ao longo dos anos, neste País, a achar que burlar regras e leis para obter privilégios é coisa normal, principalmente em se tratando de certas pessoas que se acham “melhores” do que a maioria. São aquelas que não entram em filas, não respeitam regras de trânsito, não obedecem horários, enfim, não admitem ser tratadas como pessoas comuns, às quais desprezam. Daí, partem para o jogo sujo dos subornos e propinas para alcançar seus objetivos muitas vezes escusos, valendo-se de meios absurdamente ilegais viabilizando assim, seus sórdidos interesses, o que pode resultar, em alguns casos, na perda de vidas, como se supõe que tenha ocorrido no trágico incêndio da boate de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. É claro, no entanto, que existem certas situações em que o excesso de burocracia e leis equivocadas força as pessoas a apelarem para pequenas transgressões. É comum ouvir-se a frase: “é melhor ter uma amigo na praça, do que dinheiro em caixa”. Neste caso, menos mal. O “amigo na praça” é aquele que, ocupando um cargo de determinada importância dentro de um órgão público qualquer, vai “quebrar o galho” de um parente ou de um amigo, livrando-o de certos entraves excessivamente burocráticos, muitas vezes desnecessários, e que paralisam ou atrasam o andamento de um assunto urgente, do qual às vezes, pode depender a vida de alguém. Ainda assim, é ilegal e, se as entidades em questão funcionassem dentro de um sistema socialmente justo e organizado, mesmo estas pequenas transgressões não seriam necessárias. Há uma considerável diferença entre quem tem “um amigo na praça”, que lhe presta um favor agilizando um assunto importante num momento de desespero e que pode até salvar vidas, e aquele que compra através de suborno, os favores de um funcionário corrupto, que não se preocupa com os riscos resultantes de uma “vista grossa” sobre um inexistente alvará, ou licença para manter em funcionamento uma obra, ou uma entidade irregular. Entretanto, são duas formas do tal “jeitinho brasileiro”, um vício a que se acostumou e que induz algumas pessoas ao erro, já que passa por cima de normas e leis estabelecidas. Outra frase frequentemente ouvida é: “o brasileiro só fecha a porta depois de roubado”. Infelizmente, neste País, só depois que ocorrem tragédias é que as autoridades começam a tomar providências nem sempre eficazes, se depender do jogo politico que costuma nomear indivíduos inescrupulosos ou incompetentes, (salvo as raras exceções) para os cargos responsáveis pela manutenção e segurança em locais de risco. Por falar em locais de risco, lembro-me de que aqui em Jequié, no “Palácio das Artes”, na galeria que fica na parte superior acima do auditório, se não me engano, não havia saída de emergência e a única via de acesso era uma estreita escada, na parte interna. Espero que não esteja mais assim ou que eu esteja enganado. Por Carlos Éden Meira – jornalista e cartunista. (Artigo originalmente postado no Blog Gicult)