O poeta, contista e compositor Miguel Mensitieri fala sobre seu novo livro, entre outros assuntos.
23/11/2012
Miguel Mensitieri é membro da ALJ – Academia de Letras de Jequié, redator e revisor da Assembleia Legislativa da Bahia e possui vasta bibliografia artística e acadêmica. Para saber mais clique aqui.
JN: Se fosse para definir, como definiríamos Miguel Mensitieri?
Mensitieri: Do ponto de vista político, sou um anarquista clássico, após passar pela escola marxista-leninista, mas, acima de tudo, sonho com um grande estado democrático; do ponto de vista artístico-cultural, há mais de quatro décadas que produzo nas áreas de literatura, dramaturgia e música; do ponto de vista do cidadão comum, cumpro deveres e regras de uma sociedade que se articula dentro do sistema capitalista e que tenta manter-se íntegra sob os poderes da República, guiada principalmente pelas leis constitucionais.
JN: Nos próximos dias o senhor estará lançando um livro. Fale um pouco desta obra para nós.
Mensitieri: Escolhi contos e poemas, alguns da década de 80; outros dos anos 90. São temas que vão do terreno da política ao campo da ecologia, conteúdos articulados sob a égide da antítese, tentando-se com isso um resultado que surpreenda a cada final de uma história. Não falarei de técnica narrativa, pois teria que tomar duas páginas de jornal, porém posso adiantar que trabalho com estruturas simples a complexa. O bom humor percorre todos os contos da ficção Planos Entrelaçados, livro que terá seu lançamento realizado na Livraria Divino Mestre, situada no Edifício Bizon Empresarial, térreo, no centro de Jequié (rua do fundo do Jequié Tênis Clube), no dia 1º de dezembro, às 19:00 horas.
JN: Como um multiartista da “velha guarda”, como o senhor avalia as novas produções artísticas; as que são frutos de grandes intervenções digitais, do uso indiscriminado do computador para se conseguir o resultado final?
Mensitieri: Sem dúvida, o computador, produto da cibernética, surgiu como importante elemento transformador na área da comunicação. Quanto à criação literária, a era digital não nos presenteou com alguma novidade, à parte seu aspecto tecnológico. O espaço do hipertexto, por exemplo, abre-se em múltiplas possibilidades na construção de textos como uma rede de combinações, onde um autor atrela suas ideias às de outros, construindo uma espécie de animal híbrido, mistura de gênio e idiota. Para mim tal exercício não definiria algo original em sua totalidade textual. De sorte que as invenções, intervenções e facilidades nas atividades do universo digital não chegam a concretizar a ideia de que o talento possa ser potencializado na área da literatura, em razão da fragilidade dos estímulos eletrônicos ao tocar a sensibilidade do artista.
JN: O antigo prédio da Biblioteca Municipal de Jequié será utilizado para um módulo da Polícia Militar. Algumas pessoas vêm protestando contra isto nas redes sociais, lutando para que a ALJ – Academia de Letras de Jequié é que ocupe o local. Como o senhor enxerga essa situação?
Mensitieri: A cultura em Jequié não deve submeter-se à posição de sentido; não pode parar frente a uma tropa que pretende instalar-se num espaço histórico da Cidade Sol, assim como se instalou no país e ajudou a dominá-lo durante vinte anos, no exercício ditatorial. Precisamos de uma política cultural avançada, dinâmica, onde seus agentes possam trabalhar com autonomia na aplicação de normas e leis que preservem, dentre outras coisas, o patrimônio histórico. O interesse público é tratado com desprezo por certas autoridades constituídas no município. O poder público municipal não respeita o direito que tem o cidadão de manifestar-se com ações de protestos. A política brasileira é como um campeonato de futebol. Os partidos são como times, onde seus membros (ou jogadores) são mercadoria de troca e venda. De sorte que gestores e legisladores visam os próprios interesses, deixando a torcida (ou eleitorado) a ver navios (ou grama).
JN: Jequié hoje em dia trata a Cultura como ela merece?
Mensitieri: A resposta já foi parcialmente dada à pergunta anterior. Devo acrescentar que existem pessoas abnegadas e atuantes, em vários setores da sociedade, que tratam com seriedade as manifestações da cultura local, onde se projetam princípios determinantes no sentido de uma conscientização sobre a importância da evolução de valores humanos. No final deste mês de novembro haverá importante movimento literário promovido pela UESB e pela Academia de Letras de Jequié; este e outros eventos constituem pequena amostra do que poderá vir a ser uma superestrutura formadora de talentos criadores.
LANÇAMENTO
Com vários trabalhos literários publicados, o poeta, contista e compositor Miguel Mensitieri estará lançando seu novo projeto literário Planos Entrelaçados: uma viagem com 28 paradas, e, em cada estação, o leitor tomará conhecimento de eventos tragicômicos que assolam o país; assistirá ao ridículo espetáculo de uma política provinciana liderada pelo prefeito Prometeu, que se transforma num ser híbrido e é possuído por entidades que o levam à loucura, mas, passando por sessões de psicoterapia, termina por desfilar no plenário da Câmara Federal, dobra o mandato de deputado e é conhecido como o rei do recesso ressecado. Conhecerá alguns loucos que inventam uma panela voadora e elaboram projetos que elevam pinel do rosário ao nível de cidade de primeiro mundo.
Caro leitor, João Sonífero o espera em sua barraca de intérprete de sonhos. Compareça ao lançamento do livro Planos Entrelaçados, teste o seu bom humor e sua percepção.
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