O multiartista Lula Martins fala conosco sobre a sua obra e sua visão de mundo.
07/07/2012
JN: Se tivéssemos que criar uma sinonímia para a palavra multiartista, com certeza o seu nome seria uma perfeita. Nestes quarenta anos de atividades artísticas e culturais você se envolveu no cinema como ator e diretor; nas artes plásticas com pintura e escultura, na literatura, na música e também na arte digital. Para quem ainda não o conhece, quem é Lula Martins?
Lula: Exerço a liberdade da criação espontânea. Sempre me interessei pelas diversas tendências das artes. Sou autodidata pesquisador e experimentalista. Gosto do novo desde que contextualizado dentro de uma responsabilidade social. O que faz um indivíduo existir é o coletivo. Existo porque existe o outro. É dentro da contracultura que tenho atuado e conceituado as minhas obras. Não se trata de um engajamento político nos termos direita-esquerda. Mas, de um movimento inovador, capaz de transformações essenciais como os direitos das minorias, as mudanças comportamentais, o desenvolvimento humano. Foi no corpo da contracultura que desencadearam as lutas pelos direito das mulheres, das crianças, intolerâncias raciais, étnicas, religiosas. O tropicalismo, movimento pernambucália, cinema novo, bossa nova, as vanguardas artísticas transformaram e transformam costumes e regras pétreas. Transformam as normas do paradigma. O cinema sempre foi a minha grande paixão. É uma arte sintética, reúne todas as outras formas de arte. Literatura, música, cenografia, fotografia, interpretação e sentimentos. Sou de uma geração em que cinema era tudo dentro de uma comunidade até o advento da TV.
JN: Artistas e o público de uma linha mais conservadora condenam a utilização do computador na criação de trabalhos artísticos. Como você enxerga essa crítica a arte digital?
Lula: Conservadorismo esnobe. As ferramentas digitais possibilitam novas formas de expressão, enriquece a produção audiovisual integrando a arte às novas linguagens midiáticas. São pinceis eletrônicos, editoras de filmes e livros. Que mal há nisso? Os recursos extraordinários dos programas oferecem resultados que só dependem, além do conhecimento técnico, criatividade e talento e aí teremos originalidade.
JN: Sabemos que a política é algo intrínseco nas nossas vidas, não essa política pejorativa vista constantemente na mídia – a da politicagem –, e sim um mecanismo de relacionamento entre as pessoas. Você acredita que ainda é possível utilizar da verdadeira política para se construir uma sociedade melhor?
Lula: A ética na política é fundamental para a dignidade humana. Mas essa ética deve se estender a toda biosfera. O respeito pela vida e pelas condições ambientais do planeta. Mas o que vemos é uma barbárie política, promessas, mentiras, ambições desmedidas pelo poder e a sua manutenção. Há o poder oculto do mundo que comanda estes presidentes laranjas mecânicas . A ética, o não especismo elitista, o amor e o respeito, podem sim, apontar caminhos para esse mundo tão desequilibrado.
JN: A exposição “Momento Antroplástico” (40 pinturas na técnica vinil sobre tela e 10 pinturas digitais, além da projeção de 10 slides) ficou em cartaz até o dia 30 do mês passado no Centro Cultural Correios, no Pelourinho, em Salvador. Quais os planos para o futuro?
Lula: Estou lançando ainda esse mês um novo livro que intitulei de “Somos Todos Felizes” que é uma novela literária, uma meta ficção sobre certos aspectos de Salvador atual. Acompanha um CD de forró alusivo ao sanfoneiro Seu Biroco, um personagem do livro. Tenho também exposições programadas para Goiânia, Brasília e São Paulo.
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