O ilustre poeta jequieense Pacífico Ribeiro bate um papo conosco.

12/01/2011

JN: Recentemente o senhor lançou a segunda edição do livro Sonetos Remanescente. O que o move após tantos anos de poesia e trabalho? Pacífico Ribeiro: O amor imenso que sinto pela Poesia, da qual sou, conforme já declarei, principalmente quanto ao soneto, o seu pajem mais humilde. E como “a poesia me atrai desde menino”, quando, por volta dos seis/sete anos de idade, tão logo comecei a aprender a ler, já me sentia fascinado pela poesia, e lia, embevecido, os versos das quadrinhas poéticas das revistas que meu pai comprava em Salvador. E, ainda hoje, com a idade de 92 anos, continuo “com a feliz emoção de fazer versos”. Um amigo meu, o grande poeta Clóvis Lima, costuma dizer que me habituei tanto com a poesia que tudo que eu falo forma um verso decassílabo. O que também me motiva a continuar seguindo a trilha poética é que, por natureza, sou uma pessoa de espírito inquieto, não consigo ficar parado, por exemplo, na frente da televisão; quero sempre me sentir ocupado. E por que não preencher o pouco tempo que ainda me resta e o meu pensamento com aquilo que gosto, que me dá prazer? JN: Muitas pessoas reclamaram e ainda reclamam do novo Acordo Ortográfico. O senhor acha que ele preservará a Língua Portuguesa entre os países que têm o português como língua oficial ou, naturalmente, independente de normas, cada país evolui com a sua própria língua? Pacífico Ribeiro: O propósito principal do recente Acordo Ortográfico, firmado entre os países que integram a Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa (CPLP), é unificar a ortografia do nosso idioma, que é o quinto mais falado no mundo, e, nesse sentido, também visa extinguir os dois tipos do idioma, tidos como oficiais: o do Brasil e o de Portugal, pretendendo-se, assim, tornar única a ortografia desses países componentes da CPLP. Pretende-se, ainda, com a unificação do idioma, facilitar as relações comerciais, diplomáticas, etc, entre esses povos. É esperar para ver se as nações acordantes vão se adaptar e cumprir ao que foi firmado e se tais expectativas se concretizam, uma vez que cada país possui as suas tradições, seus usos e costumes que influenciam, de forma decisiva, no idioma local, escrito e falado, de cada povo. JN: “Não é a terra que constitui a riqueza das nações, e ninguém se convence de que a educação não tem preço". Nesta frase, de tanto tempo atrás, Rui Barbosa cita a educação como a fonte de riqueza para as nações e o descaso dos governantes para este contexto. O senhor acredita que o Brasil está evoluindo em relação a esse bem tão importante para o povo? Pacífico Ribeiro: Sem sombra de dúvida, a educação é um bem, uma riqueza de valor inestimável, que faz a diferença e eleva uma nação. Um povo educado é um povo consciente de sua História, de sua evolução, de seus direitos e deveres dentro da sociedade em que vive e, assim, torná-la melhor e mais igual para todos. No Brasil, infelizmente, os investimentos com educação estão muito aquém do necessário e o resultado é o alto índice de analfabetismo, que nos envergonha, que ainda é tão grande quanto a sua extensão territorial, principalmente nas regiões Norte/Nordeste, economicamente menos favorecidas. É uma incoerência sem tamanho um País como o nosso, com pretensão de ser a quinta economia do mundo, se encontrar, em matéria de alfabetização, na América do Sul, à frente apenas do Peru e da Guiana Francesa. JN: Sabendo do seu grande amor por Jequié, aqui o senhor pode ficar à vontade e enviar uma mensagem para todos os jequieenses que nos lê neste momento. Pacífico Ribeiro: Não é novidade para ninguém que é incondicional o amor que tenho pela minha querida terra de nascença. Prova disso é a declaração de amor que a ela externei no livro O MEU CANTO DE AMOR A JEQUIÉ (hoje, em sua 3ª edição) onde canto, em versos, a sua História, desde o seu nascimento, as suas belezas, sua gente, seus monumentos, logradouros, enfim, tudo que ela possui e tantas outras coisas que eu as enxergo com os olhos do coração. Jequié, que sempre procurei elevá-la, através de meus versos e de outras manifestações artísticas e culturais, é minha fonte inesgotável de inspiração, como expresso no referido livro, por exemplo, no soneto CIDADE MUSA: “Jequié é a minha musa preferida/ que me reacende a luz da inspiração;” (pág. 99); no soneto CIDADE ENCANTAMENTO: “Tenho o orgulho imortal de ser seu filho!/ De sua história, encanto, graça e brilho, tento em meu verso ser seu mensageiro.” (pág. 98); no soneto A CHEGADA A SALVADOR: “Não busco louros nem me atrai diadema,/ contento-me com os versos deste poema,/ que é O MEU CANTO DE AMOR A JEQUIÉ!” (pág. 90); no soneto TERRA MATER: “E assim hei de passar a vida inteira,/ amando esta cidade de nascença/ até chegar-me a hora derradeira./ Meu pensamento nesses sonhos erra,/ e para perpetuar minha presença/ quero ser terra na ditosa Terra!” (pág. 86); no soneto PRAÇA RUI BARBOSA: “São mil visões que o coração descerra . / Tangendo, agora, a lira de bairrista/ sigo cantando o amor à minha terra!” (pág. 44); no soneto JEQUIÉ: “Jequié, terra do sol, formoso ninho,/ que me afagou na infância e mocidade; / do seu berço inda sinto todo o arminho/ aquecendo a ternura que me invade!” ... Neste livro, O MEU CANTO DE AMOR A JEQUIÉ, além de exaltar a minha querida terra natal, dediquei, numa singela homenagem, cada soneto, aos amigos, intelectuais, parentes e outras pessoas que tiveram ou ainda têm alguma ligação com os fatos, as localidades, os eventos etc. ali descritos em versos. Aos meus conterrâneos jequieenses declaro que me senti feliz em ofertar aos órgãos públicos, culturais e de ensino, aos representantes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, intelectuais, amigos, dentre outros de Jequié, mil exemplares da 3ª Ed. de meu livro O MEU CANTO DE ANOR A JEQUIÉ, de 2008, e mil exemplares da 2ª ed. de SONETOS REMANESCENTES, de 2009/2010, além de ter doado, com muito prazer, no final de 2009, grande parte de minha biblioteca poética para a Academia de Letras de Jequié, a Biblioteca Municipal Newton Pinto e ao Museu de Jequié -João Carlos Borges, reservando a outra parte para a Casa da Cultura Pacífico Ribeiro, quando esta possuir uma merecida e segura biblioteca. E, nesta oportunidade, reafirmo ao povo de Jequié que as portas de minha residência, em Salvador, continuam abertas para os que se interessarem em vir conhecer a evolução histórica, de quase 100 anos de nossa terra, fielmente, retratada, em telas a óleo, na “COLEÇÃO PACÍFICO RIBEIRO” sobre Jequié, a partir da década de 1910 até o ano de 1990, a qual sempre desejei que fosse integrar o acervo do Museu Histórico de Jequié. Minha esposa, Araguaci, que sabe do meu desejo, após a minha morte, decidirá a respeito.