O Ciclismo que nos faz iguais, por Dado Galvão. Clique e saiba mais.

19/09/2021

Partilho com você, uma foto(grafia) reflexiva, provocativa, na foto um cachorro de rua, descansa tranquilamente nas dependências de uma loja de bicicletas, localizada no Centro de Jequié, cidade de mais de 150 mil habitantes no interior baiano.

Os seguimentos de pets assim como o de bicicletas dispararam no Brasil, (apesar da crise e da pandemia), segundo dados divulgados pela UOL Economia, tendo como fonte Euromonitor International, nos últimos anos, o setor de acessórios e alimentos para pets cresceu 87%. Segundo o jornal Folha de São Paulo, “bicicleta vive boom, e setor eleva em 54% o faturamento na pandemia”.

Pets & bicicletas, no giro que movimenta o aquecido mercado formado por animais racionais e irracionais, um dependendo do outro, negócios. O cão sem lar é acolhido por alguns minutos pelo mercado, alguns ciclistas diriam, acolhido pelo capitalismo, um rápido cochilo e logo o cachorro vira-lata estará de volta a perambular pelas ruas onde verá seres humanos, caros e bicicletas.  

Na foto(grafia) lembro das palavras de Jessie Basbaum, descritas no livro NowTopia de Chris Carlsson, “tenho muito poucas dúvidas de que a forma como a nossa sociedade funciona é ditada pelas grandes empresas. Em última análise, as nossas vidas são comandadas pelo comércio e pelas corporações que o movem, e pela política que define o comportamento dessas empresas. É tudo capitalismo, acho, é tudo uma troca de dinheiro”.

O ciclista que aqui escreve e o cachorro que aparece na foto vivem em uma cidade (casa comum) completamente sem políticas públicas para o ciclismo, sem nenhuma plaquinha de trânsito ou legislação local em defesa do ciclismo, quase não há cobranças, exercício da cidadania por parte dos ciclistas que visivelmente mais consomem produtos ciclísticos e pertencem a grupos de pedais uniformizados, que infelizmente, fazem vista grossa por demandas coletivas pró-ciclismo, assim acontece na maioria das cidades brasileiras do porte de Jequié, salvo raras exceções.

Ciclistas invisíveis, info-operários/entregadores de bicicletas, ciclistas que conseguem enxergar ciclistas, cicloativistas que não se cansam de lutar, seja qual for o valor ou modelo da sua bike ou a forma como você anda de bicicleta. “Nesta subcultura da bicicleta, não há nenhuma pessoa que seja a melhor, que esteja ganhando ou recebendo dinheiro. É uma comunidade bastante igualitária, em que todos podem se destacar, mas não têm que ser os maiorais”.

É o que nos ensina na prática a ciclista norte-americana e mecânica de bicicletas Robin Haevens, entrevistado por Chris Carlsson em dezembro de 2003, em São Francisco no bairro Hunters Point, onde passou a dar aulas de manutenção de bikes, como parte de um currículo do ensino médio.

É sempre bom lembrar que como seres humanos e ciclistas, na chegada e na partida, no encontro e despedida, na mentira e na verdade somos todos iguais.

No descanso súbito do cachorro acolhido por alguns minutos, uma imagem e não miragem. Esperança de um ciclismo original, simples e humanizado, confiança em dias melhores com participação cidadã, inspirados nas sabias pedaladas de São Francisco de Assis, “todos os seres são iguais pela sua origem, seus direitos naturais e divinos e seu objetivo final”.

Na nossa mobilidade humana assim sejam nossas práticas, giros e pedaladas!

Dado Galvão é documentarista e ciclista, idealizador do Movimento @cicloolhar 

Fonte: Dado Galvão – Movimento @cicloolhar