Luiz Galvão, fundador dos Novos Baianos, morre aos 87 anos, em São Paulo

23/10/2022

O músico e poeta Luiz Galvão, fundador do grupo Novos Baianos, morreu na noite de sábado (22), aos 87 anos, em São Paulo.

A causa da morte não foi divulgada, mas Galvão estava internado desde o dia 16 de setembro, quando deu entrada na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com suspeita de hemorragia gastrointestinal. Após complicações, ele foi internado no Instituto do Coração, também na capital paulista, onde morreu.

A morte foi confirmada pela esposa do artista. Ainda não há informações sobre o sepultamento.

Histórico de saúde

Segundo a família, o músico vinha passando por problemas de saúde nos últimos anos. Ele era diabético, havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e um infarto. Antes da internação, ele já estava acamado.

Galvão foi hospitalizado no dia 13 de setembro após um mal estar, e chegou a receber alta no dia 14. No entanto, no mesmo dia, teve de voltar e ser hospitalizado. Com a gravidade do quadro, acabou foi entubado e foi mantido na UTI.

Durante o período de internação, a família de Luiz Galvão afirmou que ele chegou a passar uma noite no corredor de um pronto-socorro. O artista também passou por uma cirurgia vascular no final do mês de setembro.

Segundo a esposa, Janete, o artista enfrentava problemas de saúde, não conseguia andar, e já havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e um infarto. Ele também era diabético.

Amigo de João Gilberto, fundador do Novos Baianos

Luiz Dias Galvão nasceu em Juazeiro, no norte da Bahia, em 22 de julho de 1937. Bom de letras, e bom de bola, Galvão jogou futebol profissional em Juazeiro e chegou a ser campeão baiano de futebol de salão.

Seguiu os estudos, ainda no norte da Bahia, onde se formou e trabalhou por seis anos com agronomia, até deixar a atividade de lado e decidir viver de sua arte. Anos antes, ainda adolescente em Juazeiro, Luiz Galvão conheceu João Gilberto. A amizade mudaria para sempre a história da música brasileira.

Galvão costuma contar que conheceu João em uma visita feita pelo pai da bossa nova a Juazeiro, que também era sua cidade natal. O poeta já era amigo de Buliu, um dos irmãos de João.

“Dona Patu, mãe, gostava muito de mim. Ela foi uma das pessoas mais legais de que conheci. Eu ia passando assim na casa de Dona Patu e João Gilberto estava no quarto, por ele estava passando uns dias de Juazeiro. Aí ele me chamou, venha cá, ficamos conversando e começou a amizade aí", contou Galvão em 2015, em entrevista a um programa da Universidade Federal do Vale do São Francisco.

Anos depois, uma nova amizade culminaria em um dos maiores grupos da história da música popular brasileira, os Novos Baianos. Galvão se reuniu, em Salvador, com outros dois jovens saídos de cidades do interior da Bahia. De Santa Inês, no sul da Bahia, vinha Paulo Roberto Figueiredo de Oliveira, o Paulinho Boca de Cantor, e de Ituaçu, no sudoeste do estado, vinha Antônio Carlos Moraes Pires, o Moraes Moreira.

Em 1968, eles criaram o espetáculo que deu origem aos Novos Baianos, Desembarque dos Bichos depois do Dilúvio Universal.

O trio ainda ganharia os reforços Baby do Brasil e Pepeu Gomes. Além de Jorge Gomes, Dadi, Charles Negrita, Baixinho, Bola Morais e Gato Félix. Pela lei natural dos encontros, os Novos Baianos pediam passagem para fazer história.

Em 1970, o grupo lançou seu disco de estreia, “Ferro na boneca”. O grupo foi morar em um sítio em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, onde seguiam a cultura hippie dos EUA e da Europa em plena ditadura militar brasileira.

A grande obra viria após uma visita de João Gilberto à casa em que eles moravam juntos, já no Rio de Janeiro. Era 1972, quando o grupo lança o álbum “Acabou chorare”, que consagrou os Novos Baianos. O trabalho juntava samba, rock, bossa nova, frevo, choro e baião.

Com a regravação de “Brasil pandeiro”, de Assis Valente, além de “Preta pretinha”, “Mistério do planeta”, “A menina dança”, “Besta é tu” e a faixa título, todas de coautoria de Moraes Moreira.

O disco foi eleito pela revista Rolling Stone como o melhor da história da música brasileira, em outubro de 2007. No total, foram oito discos de estúdio. Há ainda dois álbuns ao vivo, de reuniões do grupo, um de 1997 e outro de 2017.

Luiz Galvão escreveu a maioria das canções gravadas pelo grupo, e musicadas por Moraes Moreira. Entre suas composições estão "Acabou Chorare", "Preta Pretinha" e "Mistério do Planeta".

Galvão é autor dos livros: "Novos Baianos: A história do grupo que mudou a MPB"; "João Gilberto: a bossa" e "Anos 80: A história de uma amizade na década perdida". O juazeirense ainda lançou o disco Galvão, A Palavra dos Novos Baianos.

O poeta sai de cena deixando como legados a paixão pela arte, a poesia, as letras marcantes, e o bom humor. Além de uma defesa intransigente do seu povo e da sua terra.

“O nordestino é um lutador, um vencedor. E Juazeiro é uma cidade brincalhona, de muito humor, é ‘cheguei’. Juazeiro é o cara”, gostava de dizer em entrevistas.

Apesar da saúde frágil com que viveu nos últimos anos, Luiz Galvão se manteve sempre em estado de poesia. Ao lado dos filhos e da esposa Janete, acompanhando o Vasco, time do coração, ou nos mínimos detalhes, Galvão fez valer os versos que deixou eternizados. "Apesar de tudo, a vida é boa e ainda é bela".

G1