Lúcia Prisco fala do seu segundo romance e de outros assuntos.

23/03/2009

Maria Lúcia Ramos Prisco lecionou por muitos anos as disciplinas Literatura e Português, é Juiza de Direito na Comarca de Jequié, autora de vários poemas e do romance Arquimimo. JN: No seu primeiro romance, Arquimimo, a senhora fala do cotidiano de Rio de Contas (cidade localizada na Chapada Diamantina, Bahia). Neste novo livro, Irmãos da Cruz, em que a história se baseia? Lucia Prisco: Nesse meu segundo romance, falou mais alto a minha consciência política, o meu apego a verdade dos fatos que compõem a verdadeira história dos Municípios, e, em consequência, de uma nação. Minha intenção fora escrever uma sátira de tais fatos, e situei-me no período da ditadura militar, que repercutira, inclusive no Município fictício de Vila dos Anjos, cópia fiel de tantos outros do interior da Bahia. JN: Falando mais um pouco do livro Irmãos da Cruz, quando será o lançamento? Lucia Prisco: O lançamento do Livro "Os Irmãos da Cruz" fora retardado por fatos alheios à minha vontade, mas já se definira a data, que será no dia 25 de abril próximo. JN: Para alguns autores e até mesmo atores, o personagem criado ou interpretado, respectivamente, com o passar do tempo ganha “vida própria”. Com o seu estilo de escrever acontece isto também ou a veia profissional fala mais forte e interfere no curso da fantasia? Lucia Prisco: Como bem o dissera o escritor Euclides Neto (já falecido), que me dera a honra de prefaciar o romance, meus personagens são gerados ou copiados da vida, "sem parecerem bonecos de cera dos museus". Crio os mesmos, ou os copio, tomando por base a minha vivência e conhecimento dos costumes de uma região, sem preocupação de seguir as normas rígidas que um romance exige. A minha "veia profissional" (se é que a possuo), é certo que interfere na composição e descrição dos fatos, mas, "com o desenrolar da história", passo a ver os personagens, como viventes verdadeiros, com vida própria, e neles, embora sejam fictícios, encontro muitos outros que me cercam de verdade, ou me cercaram na vida. JN: Mesmo não sendo natural de nossa cidade, recebera o título de Cidadã Jequieense. Na visão da mulher juíza e cidadã, como a senhora enxerga os problemas recorrentes de violência em nosso município? Só é possível citá-lo como algo inerente a condição atual em que o mundo se encontra? Lucia Prisco: Recebi com orgulho o título de cidadã jequieense, e gostaria de ter retribuído esta homenagem, com a aplicação de uma justiça eficiente, que o excesso de serviços não me permite concretizar. Entendo que "só haverá paz no mundo, com uma justiça atuante, descompromissada, e auto-suficiente. Falar da violência em nosso Município (digo nosso, porque também sou cidadã jequieense), não é fácil, eis que a mesma não se localiza aqui, ou ali, ou acolá, mas alastra-se em direção a todos os recantos dos países subdesenvolvidos (ou, como querem, em desenvolvimento). Somente no dia em que houver a consciência de que não precisamos consumir desordenadamente, e que não devemos ser arrastados pela globalização injusta; somente no dia em que as televisões, as ruas, os campos, a internet, e outros meios de comunicação, não nos inundarem o lar com amostras de produtos e mais produtos que fazem a riqueza de quem os exibe; somente no dia em que os cinturões de pobreza que envolvem as mansões e palácios se transformem em verdadeiros lares, aí, sim, saberemos dar valor aos verdadeiros objetivos da vida humana, que não se localizam, evidentemente, na vontade consumir, mas na PAZ e IGUALDADE entre os homens. É assim, entendo a violência: um produto construído pelo homem e posto à venda, como a droga...