Escritor e jornalista, Wilson Midlej bate um papo sobre o seu novo trabalho, entre outros assuntos.

24/03/2015

JN: Wilson, fale um pouco do seu novo trabalho “Gatilhos de Lembranças”. Wilson: Ao longo da vida o ser humano grava em sua memória, até mesmo inconscientemente, os momentos, imagens, pessoas, músicas, episódios, vivências e acontecimentos de maior importância que passa a se constituir como seu universo de significação particular. Assim, selecionando alguns temas considerados interessantes, resolvi aproveitar essas experiências, atrelá-las a importantes doses de ficção, ambientados em locais e épocas compatíveis, para apresentar os contos de que trata o "Gatilhos de Lembranças - A eternidade do tempo", já que a leitura desse livro, dispara os gatilhos da imaginação de quem viveu momentos semelhantes. São Causos, histórias e contos guardados em caixa de memória e retirados pelas asas da imaginação para serem contados, vivenciados e degustados nos sabores possíveis. JN: Os causos, os contos e histórias são características interioranas, geralmente da cidade pequena. Jequié – embora de forma vagarosa – vem crescendo. Acabaram-se os personagens cômicos, as histórias interessantes da Cidade Sol? Wilson: Não apenas. São contos ficcionais embasados em experiências não só em Jequié e Ipiaú, como em Salvador, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, nos anos sessenta. Quanto ao crescimento das cidades, em minha opinião, não determinam a existência de personagens interessantes e histórias de relevância dessas cidades. Aqui mesmo em Jequié tem figuras contemporâneas que já estão a merecer registros históricos pela peculiaridade da sua trajetória: a vida do médico psiquiatra Eduardo Magno Senhorinho, por exemplo, conhecido carinhosamente como Eduardo Corró, tem material suficiente para um bom livro. Eduardo atuou com destaque como biribano (moleque) da sua época, foi um dos melhores jogadores de futebol de salão da história de Jequié, médico de relevância e, embora de maneira discreta, sem espalhafato, um verdadeiro sacerdote na promoção humana: Eduardo cuida de indigentes, pessoas abandonadas, doentes mentais, com dedicação própria de uma Irmã Dulce. Assim como ele, várias outras figuras jequieenses do nosso tempo merecem um registro histórico. JN: Recentemente o senhor postou um texto na sua revista digital (Revista Bahia em Foco) do músico e ex-secretário de cultura de Jequié, Benedito Sena (Bené), o qual prevê mais um São João da cidade desprovido dos costumes e musicalidade marcantes da festa, dando uma “alfinetada” no governo municipal. Qual a sua opinião sobre o São João de cunho mais comercial, voltado para as novas tendências? Wilson: Os festejos juninos, são oriundos de Portugal e incrementados significativamente na nossa cultura pelos escravos africanos que cultivavam o São João através do famoso Xangô Menino do sincretismo. Pois bem, os estados do Nordeste brasileiro adotaram a prática de comemorar o dia 24 de junho com tanta ênfase e identificação que se transformou em tradição entre nós. A partir dos anos quarenta até o fim dos anos sessenta, o músico e compositor pernambucano Luiz Gonzaga ampliou a empolgação dos brasileiros, em especial da zona rural, onde à época havia maior densidade de habitantes, com suas músicas românticas ou de protesto, num ritmo contagiante, a ponto de marcar o São João com o seus acordes de Baião, Xote e Xaxado, instalando assim o agora famoso forró brasileiro. Cultivar essa tradição, manter esse viés de musicalidade marcante, isso é cultura! O São João festejado com vistas a incremento comercial é lamentável. Por ser de fácil consumo e rápida digestão, são eventos efêmeros, pós-modernos que denotam falta de densidade cultural do gestor municipal que prefere optar por shows-espetáculo do que aproveitar a oportunidade para consolidar os nossos valores culturais, descaracterizando completamente uma manifestação popular tão rica em simbolismo brasileiro. JN: Falando mais um pouco mais de Jequié, qual a sua avaliação do governo atual, tão criticado por grande parte da população? Wilson: A minha opinião neste momento importa pouco. O que importa mesmo, como você ressaltou na sua pergunta, é a avaliação da população de Jequié