Escritor e jornalista, Rogerio Menezes, conta um pouco da sua história.
16/11/2016
Breve perfil: Rogério Menezes é jornalista e escritor. Foi titular da coluna Crônica da Cidade, no Correio Braziliense, entre 2000 e 2002. Foi repórter e editor das revistas Veja São Paulo, Marie Claire, Contigo!, Caras e nos jornais Correio Braziliense, O Estado de S. Paulo e Folha da Tarde.
JN: Quem é Rogerio Menezes?
Rogerio Menezes: Rogério Menezes é um escritor e jornalista brasileiro. Tenho 62 anos, nasci em Mutuípe, às margens do rio Jiquiriçá. Aos 3 anos, minha família se mudou para Jequié, onde morei até os 15, quando fui fazer o curso colegial em Salvador. Tenho 27 obras publicadas, entre livros institucionais, coletâneas de contos e crônicas, livros de ensaios, biografias e romances. Destaco entre tantas coisas que escrevi as biografias de Beth Mendes (O Cão e a Rosa), Ary Fontoura (Entre Rios e Janeiros) e Walderez de Barros (Voz e Silêncios) - publicadas pelas Imprensa Oficial de São Paulo, entre 2004 e 2005 -, a coletânea de contos A Solidão Vai Acabar com Ela – 60 Histórias de uma Brasília Desconhecida (Versal Editores, 2003) e os romances Meu Nome É Gal (Codecri, 1984), Três Elefantes na Ópera (Record, 2001, um dos ganhadores do Prêmio Redescoberta da Literatura Brasileira, promovido pela revista Cult) e Um Náufrago que Ri (Record, 2009). Trabalhei em jornais e revistas de Salvador, Brasília e São Paulo. Entre julho de 2000 e novembro de 2002 fui cronista diário (escrevia a Crônica da Cidade) do jornal Correio Braziliense.
JN: Mesmo não sendo filho de Jequié, você se diz jequieense. Como surgiu esse carinho tão grande pela cidade?
Rogerio Menezes: Apesar de amar muito Mutuípe, onde nasci, e os muitos parentes que ainda moram lá, considero-me oficialmente cidadão jequieense, pois aqui vivi o período mais importante e fundamental da minha vida, a minha infância e o começo de minha adolescência. Sou apaixonado pela localização geográfica da cidade, localizada entre morros e montanhas magníficas, que chamo de ‘montanhas mágicas’ as quais incluo entre as paisagens mais bonitas do mundo. Aqui estudei no Instituto de Educação Régias Pacheco - IERP (onde fiz o antigo curso primário) e no Ginásio de Jequié (mais conhecido como Ginásio do Padre, onde fiz o ginasial). Aqui também mergulhei cedo no mundo mágico do cinema (ao lado da literatura, as minhas grandes paixões na área artística) frequentando quase diariamente ‘matinês’ nos falecidos Cine Teatro Jequié e Cine Bonfim, e li a obra inteira de Jorge Amado. Meu pai tinha as obras completas do escritor baiano na estante e eu ‘ devorei’ a coleção inteira. Costumo dizer que o meu Monteiro Lobato foi Jorge Amado.
JN: Você já atuou em grandes veículos de comunicação do país. Fazendo uma reflexão, quão importante foi essa experiência?
Rogerio Menezes: O jornalismo é o irmão bastardo da literatura, e a literatura é a irmã bastarda do jornalismo. Eles se retroalimentam. Muitas histórias apuradas nos muitos jornais e revistas que trabalhei me inspiraram em textos literários que escrevi. A literatura é mix de invenção e memória, e nesse lado memorial o olhar jornalístico, de curiosidade sobre tudo o que acontece ao meu redor, que adquiri desde a infância foi fundamental na gênese da minha literatura. Também tem o lado perguntador do jornalista, essa coisa de querer saber de tudo, de gostar de ouvir histórias alheias, e eu adoro ouvir histórias alheias desde sempre. Sei mais do que ninguém, por exemplo, sobre a história de minha família, os Souza Menezes, porque sempre procurei saber informações novas e ‘exclusivas’ com meus irmãos mais velhos, e com parentes mais próximos. Quando entrevisto pessoas, as entrevistas costumam durar mais do que o previsto e os entrevistados acabam me contando coisas que depois acabam se arrependendo. Se me dedicasse à investigação policial talvez eu fosse excelente detetive.
JN: Esta foi uma declaração sua numa entrevista há 18 anos: “O compromisso teórico, e cá pra nós, utópico do jornalismo é com a uma suposta apuração da verdade”. Existe o jornalismo sério, apartidário e imparcial?
Rogerio Menezes: Continuo achando. Nunca existiu nem existirá jornalismo apartidário e imparcial. A verdade nunca poderá ser totalmente apurada e, muito menos, contada. O jornalismo e a literatura tentam desesperadamente se aproximar da realidade, se apropriar da realidade e reproduzi-la da melhor, ou da pior, maneira possível. Mas ainda conseguem esse ‘verdadeirismo’ apenas em parte. A arte é apenas pretenso simulacro da vida. E eu, apesar de adorar arte, prefiro a vida. A vida é incontrolável, irreproduzível e inimitável. Abordando-se a questão por um lado menos poético, existe também o seguinte: donos de grandes empresas jornalísticas não costumam gostar de publicar informações que os prejudiquem economicamente. Então, resumo assim essa equação: o jornalismo é o jornalismo; a literatura é a literatura; e a vida é a vida. Embora se intercambiem, nunca se misturam num corpo só e sólido.
JN: “A mídia é o quarto poder”. Você concorda com essa antiga expressão?
Rogerio Menezes: Essa ‘antiga’ expressão é hoje demodê. Com o surgimento da internet há 21 anos, a mídia não pode mais ser chamada de quarto poder e sim de primeiro poder, e esse crescimento tende a ser cada vez maior com a expansão cada vez maior das redes sociais. A mídia manda e desmanda, põe e dispõe. Derruba presidentes se quiser, vira o mundo de ponta cabeça se quiser, e isto já acontece no mundo atual de maneira rotineira. Hoje importa mais a versão que a mídia veicula e manipula do que os fatos reais como de fato aconteceram. Essa situação é, no meu ponto de vista, irreversível. Cada vez mais o ser humano se deixa manipular, e a manipular o mundo dos outros. Não ofereço qualquer resistência ao mundo virtual. Mergulhei na digitalidade logo quando surgiram os primeiros computadores no começo dos anos 1980 e quando a internet surgiu me inseri nesse contexto de maneira absoluta. Atualmente toda a minha recente produção literária foi escrita, nos últimos quatro anos no facebook.
JN: Atualmente você está morando em Jequié. Como está sendo viver novamente na Cidade Sol? Em que você está atuando atualmente? Existem projetos para o futuro?
Rogerio Menezes: Morar em Jequié é como voltar para casa. Quase cinquenta depois que saí daqui, na verdade 47, tudo parece continuar como antes, embora a cidade não respire mais o bucolismo de outrora. Mas eu ando todos os dias cidade afora escarafunchando esses vestígios bucólicos que me encantaram na infância, e vivo a lamber minhas memórias em cada esquina da cidade. Verdade que hoje as motocicletas tornam o trânsito da cidade um inferno. Viver em Jequié hoje é basicamente tentar escapar do atropelamento por motociclistas malucos. Atualmente escrevo uma série de dez textos para o CORREIO e CORREIO2 4HWEB. Não gosto de fazer planos para o futuro, pois o futuro é um lugar que não existe. É um lugar que poderá existir, ou não, mas, mesmo assim, sempre tenho planos: escrever novos romances; escrever crônicas diárias para um grande jornal-portal, me tornar uma pessoa cada vez mais generosa, amar cada vez mais os meus amigos e familiares. Não tenho filhos, mas tenho netos. Considero os filhos de minhas sobrinhas meus netos, e tenho com eles carinho e afeto de avô. Também desejo publicar os textos que publico no facebook há quatro anos e livros inéditos como os romances ‘Negrinha de Luxo’, ‘Dois e Meio’ e uma obra de referência: o ‘Dicionário da Pornografia Popular Brasileira’. Por último, gostaria de ainda ter chance de morar em outras cidades do mundo. Sou um ser móvel. Em 62 anos morei em mais de 100 endereços. Até os 90 e poucos anos, quando pretendo morrer (risos), deverei ter mais uns vinte. Isto se o meu Deus-móvel permitir.
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