Dom Cristiano Krapf fala conosco sobre a beatificação de Irmã Dulce.
21/05/2011
Dom Cristiano Jacob Krapf
Bispo da Diocese de Jequié/Ba (desde 1979).
JN: Muitas pessoas não sabem o que significa a beatificação ou a santificação. Seria interessante esclarecer para os nossos internautas este aspecto.
Dom Cristiano: Desde os primeiros séculos do nosso calendário, pessoas de vida cristã exemplar eram veneradas pelos cristãos e tinham seus túmulos visitados como santos, especialmente os mártires que foram mortos nas perseguições por professar sua fé.
No correr dos séculos, a Igreja passou a fazer declarações oficiais sobre a santidade de pessoas já consideradas como santas na devoção popular, passou a canonizar esses santos, a colocá-los no cânon, na lista oficial dos santos reconhecidos como tais pela Igreja, depois de examinar com cuidado toda sua vida. O processo de canonização tem até um investigador que era chamado de advogado do diabo, com a tarefa de encontrar defeitos nos escritos ou nas obras do candidato.
Atualmente, antes do processo de canonização vem uma primeira etapa, o da beatificação. A partir deste domingo, a irmã Dulce que tem sua vida e suas obras admiradas não só por católicos, pode ser oficialmente venerada como beata. Nem sempre a devoção popular leva à declaração de santidade. O padre Cícero, por exemplo, tem fama de santidade, mas (ainda) não foi canonizado, por causa de algumas posições que ele tomou diante de problemas do seu tempo.
JN: O que representa para a Igreja Católica a beatificação de Irmã Dulce? Já que ela poderá se tornar a primeira santa nascida no Brasil, país com o maior número de católicos do mundo. (Frei Galvão é o primeiro santo).
Dom Cristiano: As palavras beatificação e santificação podem dar origem a mal-entendidos. A pessoa se torna santa com a vida que leva, deixando-se conduzir pela graça de Deus. O que a Igreja faz é uma declaração da certeza da sua participação da vida eterna. O santo canonizado pode ter a devoção pública dos seus admiradores e ser invocado para ajudar com suas preces diante de Deus aos que ainda caminham nas dificuldades da vida terrena. Algum cristão nega que já na terra podemos fazer pedidos a Deus em favor de outras pessoas? Por que é que tal serviço deveria terminar com a morte? Cremos na comunhão dos santos.
JN: Muitos, não são católicos, questionam o Catolicismo por suas doutrinas, inclusive pelo ato de santificar um ser humano. O senhor acha que é salutar os questionamentos, as críticas, as indagações diante das dúvidas?
Dom Cristiano: A procura da santidade, o esforço sincero de resistir às tentações do pecado e de organizar sua vida de acordo com os ensinamentos de Jesus, é vocação de todo cristão. Sede perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito.
Questionamentos são importantes. Oferecem ocasião para explicações. No meu tempo de estudante, antes de embarcar na aventura de ser padre, passei um bom tempo procurando seguir o conselho de São Paulo: Examinai tudo, e guardai o que for bom.
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