Documentarista jequieense, Claudio Galvão, fala da sua história entre outros assuntos.

03/02/2009

Claudio Galvão da Silva Documentarista, Bacharel em Administração em Marketing, Pós Graduando pela Universidade Estadual de Santa Cruz em Audiovisual, Membro da Associação Baiana de Cinema e Vídeo e da Associação Brasileira de Documentaristas. Blog: www.dmaudiovisual.blogspot.com JN: Fale um pouco da sua história, faça um resumo de quando você começou a se interessar por cinema até os dias atuais. Claudio Galvão: O gosto pela comunicação nasceu na Igreja Paróquia de São José Operário, onde a convite do Pe. Hélio Sandes fui trabalhar como locutor voluntário na pioneira Rádio Vida FM. Tempos depois, passei a ser coordenador da Rádio, onde aprendi muito fazendo o que descrevo como: “rádio oficina.” Foi através de lá que conheci o amigo de caminhada Mariel Cana Brasil que com muita competência me acompanha ha muitos anos nas produções de documentários. Estudei no Colégio Polivalente, onde tive o privilegio de encontrar bons professores e colegas que levavam para sala de aula discussões sobre o cotidiano global. Fui estimulado pela professora Graça Carvalho juntamente com meus colegas, a trabalhar nas feiras de ciências — é muito triste saber que a feira de ciências do Colégio Polivalente acabou —. Passei então a ter contato com a arte (teatro) para ilustrar os nossos trabalhos que sempre envolviam temáticas sociais. Em uma aula de literatura para apresentar um trabalho solicitado pela professora Adilma, veio à idéia de realizar o primeiro vídeo (TV Literatura) que relatava a vida do escritor baiano, Jorge Amado. Então com a câmera e a paciência do meu amigo Beto Costa, começamos a filmar. Os colegas gostaram da experiência, e então vieram outros vídeos “Canudos a cidade dos flagelados” e “Visão política”, vídeos muito simples, mas classificados por quem assistiam de originais e reflexivos. Doravante, na Faculdade FTC, onde me tornei bacharel em administração em marketing (2005), continuei realizando vídeos, tendo o apoio do professor Agnaldo Bezerra que passou a utilizar e divulgar um dos meus trabalhos “O mundo precisa de paz” em vídeo. Ganhei uma bolsa da Faculdade e passei a ser artista FTC. Terminei o curso com um tema de monografia diferenciado “Análise do Marketing nas Ações Terroristas”. Utilizo este tema hoje como tese de Mestrado em Comunicação na Universidade de Havana/Cuba. Em 2005 fui selecionado, na etapa do Brasil, na seleção da Escola Internacional de Cinema e TV de Cuba, uma das escolas mais conceituadas na área de cinema do mundo, mas não fui convocado para seleção final. Realizamos em 2006/2007 o documentário “A Fábrica”, parceria entre a Secretaria Municipal de Educação e a Pastoral Carcerária da Diocese de Jequié. O filme tornou-se uma referência para o nosso trabalho e ficou bastante popular em nossa região, sendo que nacionalmente ele foi exibido por duas vezes na TV Bandeirantes. Considero “A Fábrica” como uma importante ferramenta de prevenção e combate aos caminhos que levam a criminalidade. Eu e Mariel somos muito gratos ao “irmão Franco” e a todos da Pastoral Carcerária pelo convite e confiança. Recentemente fui aprovado na seleção do curso de Pós-Graduação em Audiovisual da UESC - Universidade Estadual de Santa Cruz (Ilhéus/Itabuna - Bahia). Meu projeto de pesquisa na Pós é dar continuidade ao documentário “A Fábrica”, ou seja, continuar contando as histórias em uma nova versão, que provavelmente tenha o nome de A Fábrica II. Hoje estou Servidor Público temporário da Secretaria Municipal de Educação, onde tenho a missão juntamente com o colega de trabalho e amigo Mariel Cana Brasil de produzir documentários e vídeos institucionais. A Secretaria Municipal de Educação de Jequié é pioneira — e única — no Estado da Bahia, em ter um setor dedicado à produção audiovisual. Nasceu em 2004, fruto da visão da Ex-Secretária de Educação, Professora Graça Bispo. JN: Dia 26 deste mês o documentário A Grande Moeda será exibido em Jequié. Qual a importância deste trabalho para a nossa sociedade? Claudio Galvão: A Grande Moeda “de que lado você está?” relata o cotidiano dos voluntários da Pastoral da Criança em onze cidades da Bahia. Ligada a Diocese de Jequié, no filme a Dra. Zilda Arns narra à trajetória da Pastoral da Criança, enquanto os voluntários da PC nas onze cidades comprovam no cotidiano de cada um que o exercício da solidariedade é uma moeda incalculável. Diante de um exemplo tão verdadeiro da prática da solidariedade exercida pelos voluntários da Pastoral da Criança, nos motivou a mostrar o outro lado da moeda: o consumo. Utilizamos então a linguagem que batizei de “publicitária irônica e reflexiva”. O consumo desenfreado é um dos responsáveis de forma direta por muitos dos males que atingem a nossa sociedade como: violência, depressão, consumo de drogas e a destruição da natureza. A todo momento estamos sendo estimulados a consumir, — temos que consumir — mas o consumo deverá ser consciente, equilibrado, um questão que deve ser trabalhada nas escolas, como diz o provérbio filipino: “se você compra coisas que não precisa, logo estará vendendo coisas que você precisa.” No desenrolar do filme de acordo com o que tínhamos em mãos para criar — equipamentos para editar e finalizar — acredito que seremos entendidos. No dia 26 de março do ano em curso, às 19:30h, no Centro de Cultura ACM estaremos lançando o DVD e exibindo o filme para a comunidade jequieense com a presença da Dra. Zilda Arns, personalidade brasileira que com a sua simplicidade, sabedoria e carisma fundou a Pastoral da Criança que tanto bem faz a humanidade. Lembramos ainda que a entrada será franca. Como documentarista, vivo um momento singular, agradeço a Deus pela oportunidade, a Irmã Maria Luiza e aos voluntários da Pastoral da Criança por ter acreditado e confiado em nosso trabalho. Aprendi muito realizando este documentário. JN: Recentemente você esteve em Havana, Cuba, onde participou de um Festival de Cinema. O que este tipo de evento representa para a formação de um profissional de cinema. Claudio Galvão: O XXX Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano (Havana/Cuba) foi uma experiência inesquecível — sem palavras —, as amizades que ganhei também. Foi gratificante perceber como a Pastoral da Criança é respeitada e admirada por pessoas de várias partes do mundo. Agradeço a DEUS pela oportunidade de tentar traduzir para a linguagem audiovisual um pouco do importante, valioso e humano trabalho prestado por esta Pastoral. Sobre Cuba, confesso que terei que refletir — e muito! — para escrever alguma coisa. Mas posso testemunhar que o embargo norte-americano fez e faz estragos injustificáveis ao povo cubano. Entreguei pessoalmente ao Diretor do UNICEF, Sr. José Juan Ortiz, o que chamamos de “Carta Rafael Oliveira Costa”. (Leia a Carta: http://dmaudiovisual-carta.blogspot.com). Estive também com os membros da SIGNIS (Associação Católica Mundial para a Comunicação), importante organização Católica voltada para a comunicação que organizou a exibição de A Grande Moeda em Havana. Presenciei muita gente famosa; diretores, atores, atrizes, produtores, a nata do cinema latino, e na cerimônia de encerramento estava lá o escritor Gabriel Garcia Márquez. Quero aqui agradecer aos amigos e família que me deram “suporte” para que eu pudesse vivenciar esta experiência de perto: Pimentel, Marivone, Franco, Mariel, Rubia, Profª Graça Bispo, Irmã Maria Luiza, Clovis e Aline da Pastoral da Criança Nacional, Alex, Evani, Beto Costa, Benedito Sena e todos que nos apóiam e torcem no anonimato. Agradecimentos em especial ao Deputado Euclides Fernandes, Senador César Borges, Prefeitura de Jequié através da Secretaria de Educação e a impressa de Jequié. Confira algumas fotos registradas em Cuba: www.orkut.com.br/Main#AlbumList.aspx. JN: Claudio, sabemos que o cinema em si é uma arte apreciada por muitos, mas sabemos também que o apoio para realização é muito restrito. O que você tem a falar sobre o apoio, ou não, que recebe tanto da área privada quanto da pública? Claudio Galvão: Foi possível produzirmos documentários como A Fábrica e A Grande Moeda graças à união de forças (parcerias) entre a Pastoral Carcerária, Pastoral da Criança e a Secretaria Municipal de Educação. Temos um setor dedicado ao audiovisual na Secretaria Municipal de Educação, “fundado” em 2004 onde na época a então Secretária Professora Graça Bispo deu todo apoio e liberdade para que desenvolvêssemos os documentários. Hoje contamos com apoio da atual Secretária de Educação, Professora Miriam Rotondano, e do Diretor do Departamento de Projetos, Urbano Aguiar, que estão trabalhando muito para dar melhores condições de trabalho ao nosso setor. Estas experiências que estamos vivenciando em Jequié na produção de documentários é única e pioneira em nosso Estado, pelo fato das produções nascerem de parcerias no âmbito municipal com uma Secretaria Municipal de Educação “antenada” com a ferramenta audiovisual. Precisamos agora! Para dar maior qualidade às produções — melhorando o nível técnico — de equipamentos com melhor qualidade; câmera, microfones, equipamentos de edição. Mas, mesmo com ferramentas ainda que limitadas, temos conseguido participar de Festivais e encontros importantes na área. Acredito que seremos atendidos pela gestão do Prefeito Luiz Amaral, através da nossa Secretária de Educação que objetiva tanto melhorar a qualidade da educação municipal. Eu acredito fervorosamente que o cinema é ferramenta de transformação social. Em Jequié estamos buscando vivenciar isto na prática, aliando à educação. Agradeço o sitio pioneiro Jequié Notícias — parceiro de longas datas — por mais uma vez abrir espaço para difundir nossas ações, objetivando construir uma sociedade mais humana e solidária.