Coord. do Curso de Medicina (UESB Jequié) fala sobre a transferência do curso para Vit. da Conquista.

04/04/2013

Drª Cristina Mª Bitencourt T. Leite Coordenadora do Curso de Medicina - UESB / Campus Jequié JN:Qual o grande problema no curso de Medicina de Jequié, já que se cogita a transferência do mesmo para o campus da cidade de Vitória da Conquista? Drª Cristina: Em primeiro lugar gostaria de parabenizar a iniciativa de vocês pela busca de informações verdadeiras sobre esta questão tão importante, um problema que para nós tem sido motivo de preocupação há mais de seis meses. Por isto que, por incrível que pareça para nós a surpresa está no fato de tal problemática só ter virado “manchete” devido à tentativa de solucionar a questão dentro da própria instituição de ensino. Sentimos pela postura assumida pelos alunos do curso de medicina do Campus de Vitória da Conquista e pela falta de cuidado na divulgação das notícias por parte de algumas pessoas que não procuraram conhecer a atual e real situação do curso de Medicina da UESB Campus de Jequié. Porém, apesar de todos os transtornos é possível afirmar que, felizmente, tal fato ocorreu e fez com que Jequié e o curso de Medicina ganhassem a visibilidade necessária para a solução desta e de outras questões que giram em torno da saúde do nosso município. Entendemos que grandes e importantes questões que afligem a sociedade, podem e devem ser resolvidas com união, empenho e dedicação. Agora respondendo à sua pergunta afirmo que até a presente data não foi cogitada a possibilidade de extinção do curso de Medicina da UESB/Campus de Jequié, tampouco que haverá a transferência deste curso para Vitoria da Conquista. Na realidade o que foi solicitado à Reitoria e que ainda não está decidido é a ida de uma turma, a que está findando o terceiro ano do curso, para cursar o quarto ano no campus de Vitória da Conquista. O que vem motivando esta possibilidade é a falta de professores médicos para dar segmento às atividades curriculares desta turma. Nesta proposta pontual, os três primeiros anos do curso permanecem no Campus de Jequié e mais concursos públicos continuarão a ser abertos na expectativa de conseguir, o mais breve possível, compor o corpo docente. Atualmente não temos número suficiente de professores médicos para “ministrar” as atividades propostas para todos os alunos, especialmente os das séries mais avançadas. É impossível para nós pensar na possibilidade de deslocar os professores médicos das turmas iniciais, porque isto significaria uma perda na qualidade do ensino. Diante de tal situação e visando não prejudicar todos os alunos, o atual corpo docente, o Colegiado e o Departamento de Saúde, resolveram solicitar à reitoria que uma turma de alunos, ressaltando, apenas os do quarto ano, fosse deslocada para o Campus de Vitória da Conquista. Vale lembrar que em Vitória da Conquista o curso de Medicina foi implantado muitos anos antes do de Jequié e que por isto já dispõe de professores para todos os seis anos do curso, ou seja, já tem todo o corpo docente formado. Além do mais a cidade de Vitória da Conquista conta com um maior número de hospitais e de outros estabelecimentos de saúde (públicos e privados) além de um número muito maior de médicos. JN: A senhora concorda com essa alternativa? Quais outros caminhos poderiam ser seguidos para que Jequié não perca um curso tão importante? Drª Cristina: Como Jequieense, entendo a repercussão e preocupação de todos diante desta “alternativa”, tanto que, em 26 de novembro próximo passado, na Câmara de Vereadores de Jequié, ocorreu uma audiência pública tendo como tema o curso de Medicina, para esta foram convidados todos os representantes das associações civis organizadas de Jequié, todos os políticos, que representam e/ou representaram o povo Jequieense, no poder legislativo e executivo, a nível municipal, estadual e federal, assim como os recém eleitos, para informar as soluções e os desafios do curso de Medicina de Jequié. Infelizmente pouquíssimos compareceram na ocasião. Talvez se naquele momento, tivéssemos conseguido o apoio e a atenção necessária, além da repercussão na mídia que só agora foi alcançada, a alternativa, ou melhor, a solução encontrada no momento visando não prejudicar os alunos, não fosse esta. É importante reafirmar que é a falta de professores médicos que no momento impõe a nós, os responsáveis pela formação dos estudantes de medicina, está triste decisão. A atual falta de médicos é uma realidade em Jequié, assim como em várias outras cidades do nosso país e isto se reproduz no ambiente da Universidade. Sobre “outros caminhos” imagino que seja o de mais empenho e dedicação de todos, no sentido de cobrar um maior e melhor direcionamento de verbas para a Universidade e melhorias do sistema de saúde em Jequié, tanto nas unidades que estão sob responsabilidade da gestão pública estadual, como, principalmente, naquelas que estão sob a responsabilidade dos gestores municipais. Nos últimos anos a decadência da saúde em nosso município está visível até mesmo no setor privado. A meu ver, sob todos os aspectos, investimentos nestes setores seria a melhor maneira de atrair e fixar novos médicos em nossa querida Jequié. Imaginamos que melhores condições de trabalho, melhor remuneração e aumento no número de médicos em Jequié possam contribuir significativamente para haver maior interesse destes profissionais pela docência. Portanto mais e melhores investimentos nestes setores, além de boa administração, seriam importantes aliadas para a manutenção de um curso de Medicina de qualidade na UESB Campus de Jequié. JN: Quando o curso chegou à cidade muitos políticos se nomearam como os responsáveis diretos pela vinda. A senhora acha que falta um maior empenho por parte desses próprios políticos em cobrar ao Governo do Estado maiores investimentos e consequentemente a manutenção do mesmo? Drª Cristina: Empenho de políticos e políticas públicas voltadas para saúde e educação é essencial para o desenvolvimento de uma região, além do que, um curso de Medicina necessita de toda estrutura de saúde existente no município, não apenas dos ambientes criados no espaço da Universidade, porque é com a prática que se consolida o saber médico. Penso ainda que o político deva representar o desejo do povo e sendo assim acho que todos eles, independentemente do partido a que pertençam, devem se unir em prol de Jequié e dos anseios da população que clama por melhorias nos mais diversos setores não apenas na saúde e educação. JN: Estudantes de Medicina do Campus de Conquista recentemente foram às ruas da sua cidade protestar contra a transferência dos estudantes jequieenses àquela cidade. Como a senhora enxerga essa situação vergonhosa que Jequié ficou perante toda a sociedade? Drª Cristina: Sob a minha ótica a situação vergonhosa não é nossa e sim deles. Penso ser uma vergonha para eles, pois não souberam ser solidários aos alunos e professores, colegas de uma mesma instituição de ensino a UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia). Este seria o momento de não demonstrar egoísmo, porque o conhecimento só nos serve se for para dividir e oferecer ao próximo como um bem, sem exigências ou barganhas. Quanto a nós, penso que esta é uma demonstração de maturidade, ética e responsabilidade com a qualidade do ensino médico, responsabilidade com os alunos e seus familiares, responsabilidade com a comunidade Jequieense e cidades circunvizinhas. Responsabilidade com a vida dos seres humanos que serão assistidos por estes futuros médicos. Saliento ainda que ao assumir a coordenação do Colegiado do Curso de Medicina, em Janeiro de 2011, encontramos outros grandes e numerosos desafios que foram honrosamente vencidos graças a muito empenho, trabalho, estudo, dedicação, abdicação de causas próprias, apoio de vários profissionais dos mais diversos setores da nossa instituição e de uma consultoria experiente em ensino médico, competentes gestores de outra instituição de ensino superior do nosso estado. Tudo isto foi nutrido pela confiança depositada por alunos, colegas professores, diretor de departamento e Reitoria. Lembro a todos que sou Jequieense de nascimento e que escolhi esta cidade para viver e dedicar a minha vida profissional. Como médica e professora do Curso de Medicina continuarei mantendo o ideal que sempre cultivei, ajudando o próximo, partilhando o saber médico e tendo ações proativas que contribuam para a boa formação profissional dos meus pares. Assim permanecerei, lutando não apenas pela manutenção do curso de Medicina em Jequié, mas, principalmente, por um curso de Medicina de qualidade na UESB Campus de Jequié, porque nossa luta é pela qualidade do ensino médico e pelo bom desempenho dos nossos alunos, futuros médicos. Informamos ainda que, o ano letivo 2013 terá inicio na próxima segunda feira, dia 08 de Abril, o calendário do curso e as atividades curriculares ocorrerão conforme planejamento prévio para as turmas do primeiro, segundo e terceiro ano. Quanto a situação da turma do quarto ano ainda estamos tentando resolver, até porque o ano letivo 2013 no Campus de Vitória da Conquista só terá inicio no segundo semestre e até lá, com fé em Deus e a ajuda de muitos, a situação poderá ser revertida, caso consigamos inscrição e aprovação de professores médicos no próximo concurso, que esperamos ser aberto muito em breve.