Cineasta e documentarista, Cláudio Galvão, conhecido “Dado”, fala de seus trabalhos e um pouco da sua história.
08/10/2006
JN Fale um pouco da sua história, de como surgiu a vontade de fazer cinema.
Cláudio Eu estudava à noite no colégio Polivalente, onde tive o privilégio de encontrar bons professores e colegas que levavam para sala de aula discussões sobre o cotidiano global. Fui estimulado pela professora Graça Carvalho, juntamente com meus colegas, a trabalhar nas feiras de ciência (É muito triste saber que a feira de ciências do Colégio Polivalente não existe mais). Passei então a ter contato com a arte (teatro) para ilustrar os nossos trabalhos que sempre envolviam temáticas sociais.
Em uma aula de literatura para apresentar um trabalho pedido pela professora Adilma, também no Polivalente, veio à idéia de realizar o primeiro vídeo chamado: TV LITERATURA, que relatava a vida do escritor baiano, Jorge Amado. Então com a câmera e a paciência do meu amigo Beto Costa, começamos a filmar.
O propósito era prender a atenção dos colegas para o tema e fugir da rotina, e obtivemos sucesso. Os colegas gostaram, então vieram outros vídeos como: Canudos, a Cidade dos Flagelados e, Visão Política, vídeos muitos simples mais classificados por quem assistiam de originais e reflexivos.
Já na faculdade (FTC), onde me tornei bacharel em administração (2005), continuei realizando vídeos, tendo o apoio do professor, Agnaldo Bezerra, que passou a utilizar e divulgar um dos meus trabalhos em vídeo, chamado: “O mundo Precisa de Paz”. Ganhei uma bolsa da Faculdade e passe a ser artista FTC.
Terminei o curso com um tema de monografia bastante inusitado “Análise do marketing nas ações terroristas de 11 de setembro”. Em 2005 fui selecionado, na etapa do Brasil, na seleção da Escola Internacional de Cinema e TV, de Cuba, uma das melhores e mais tradicionais Escolas de Cinemas do mundo para o curso de documentário e direção, mas não fui convocado pela seleção final.
Hoje sou contratado da Secretaria Municipal de Educação, onde tenho a missão juntamente com o colega Mariel de produzir documentários para serem utilizados pelos professores da rede municipal, em sala de aula e pela comunidade em geral.
Durante toda a minha caminhada fui estimulado pela minha vocação e por aqueles que tinham contato com os vídeos a continuar nesta estrada, acreditando que através do audiovisual poderemos promover transformações sociais.
JN Neste seu documentário: A Fábrica “produzir para o bem ou para o mal?”, que retrata a vida dos presidiários no Conjunto Penal de Jequié, lhe levou a que considerações a respeito desta obra?
Cláudio Que todos nós seres humanos somos iguais tanto na chegada quanto na partida, e que temos dois caminhos em nossas vidas, estando encarcerados ou não. Podemos produzir para o bem ou para o mal.
Mas é preciso que criemos condições e garantias básicas tanto para quem estar encarcerado e também para aqueles que vivem sem a oportunidade de uma vida mais humana.
O documentário também serviu como instrumento de valorização dos presos, despertando neles, talentos e dons que talvez nunca fossem descobertos.
Um fato que nos deixa feliz é a reação do público nas exibições do documentário, onde eles tem interagido com os personagens (aplaudindo, sorrindo, silenciando-se). Para um documentário de 108 minutos e de produção bastante limitado, isto é espetacular e “Glauberaino”.
Gostaria de destacar também a criatividade do meu amigo de trabalho e editor Mariel Santana, que apesar de nossas limitações em equipamentos fez um trabalho esplêndido de edição.
Estamos realizando também um trabalho inovador na área com a criação de um site ( www.afabrica.org ) onde as pessoas podem acessar e através de organizações governamentais ou ONGs, solicitar a exibição gratuita do documentário em qualquer lugar do Brasil. Já temos exibições agendadas para Salvador, Itapetinga, Apuarema, Vitória da Conquista e em bairros de Jequié.
JN O saudoso Glauber Rocha disse que o cinema se faz com uma câmera na mão e uma idéia na cabeça, levando em consideração o tempo em que o cinema brasileiro se estruturava. Você concorda que hoje em dia é possível esta afirmativa de Glauber?
Cláudio Sim. O Glauber era uma cineasta de visão futurista e objetiva, ele revelou através de sua câmera um Brasil desconhecido, sem maquiagens e um cinema inovador que não plagiava as produções americanas, ao contrário, criou o seu próprio estilo o que aprendemos a chamar de “cinema novo” ou para outros, “cinema revolucionário”.
O cinema derivado de Glauber avança com filmes como: Central do Brasil, Cidade de Deus, Carandiru, Canudos, O que é isto companheiro?.
Hoje, com as modernas câmeras digitais e o avanço do cinema digital é possível produzir com pouco dinheiro, com imagens de qualidade e independência, mas esbarramos nas limitações financeiras, pois os equipamentos são ainda muito caros.
Precisamos rapidamente que aconteça no Brasil a descentralização das produções audiovisuais que se concentra no Rio, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, estimulando outras regiões do Brasil a produzir e exibir, democratizando o acesso de novos realizadores e produtores independentes a ter acesso a equipamentos de cinema e fazer com que os filmes brasileiros tenham mais espaço nas salas de cinema do Brasil, estimulando a construção de salas de cinema e a reabertura delas em regiões carentes.
JN Qual a sua perspectiva em relação aos próximos trabalhos? Em complementação a sua resposta, existe algum apoio para realização deles?
Cláudio Aguardo resposta, ainda este ano, do governo da Venezuela (Universidade Bolivariana) para graduar-me em Licenciatura em Comunicação Social e vivenciar de perto a chamada “Revolução Bolivariana”.
Pretendo continuar dando minha contribuição através do audiovisual na realização de trabalhos que tenham temáticas e que sejam de interesses coletivos, acredito que o audiovisual é uma forte ferramenta de transformação social.
Desejo continuar na Secretaria de Educação onde conto com a sensibilidade, visão e confiança da nossa Secretaria de Educação, da professora Graça Bispo e o apoio dos colegas da secretaria para desempenhar nosso projeto.
Na realização do documentário, A Fábrica, tivemos apoios e parceiros fundamentais que serei sempre muito grato. Ao Franco que fez de tudo para desempenharmos as nossas atividades, a direção do Conjunto Penal de Jequié e a todos os seus funcionários na pessoa de Jodilson, e todos os presos que participaram e confiaram em nosso trabalho. A imprensa pela divulgação, com um agradecimento especial para o site jequienoticias, pelo carinho e valorização da cultura local.
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