Benné Sena, músico e ex-Secretário de Cultura, fala sobre o São João.

04/06/2012

JN: As tradições juninas estão se perdendo com o tempo. Hoje em dia são poucas as pessoas que armam a fogueira na porta de casa, ou simplesmente desapareceu aquela cultura de ir de casa em casa tomar o licor e comer o amendoim em residências de desconhecidos, muito devido a criminalidade atual. Na sua opinião, qual a consequência dessa evolução (ou involução) para os festejos? Benné: Algumas práticas relacionadas com os festejos juninos, em consequência também da violência não acontecem mais da forma que conhecemos, entretanto, o aspecto de confraternização entre amigos e famílias conhecidas ainda resiste. O importante é que este espírito de confraternização não seja destruído e a sua manutenção deve-se ao que foi praticado ao longo dos anos com as portas das residências abertas para todas as pessoas. Claro que o festejo perde na sua originalidade. JN: O forró “pé de serra” vem perdendo espaço para as bandas de artifícios eletrônicos. Qual seria o motivo desse aspecto? É culpa das rádios que influenciam o público? De quem seria a culpa? Benné: A indústria do entretenimento é poderosa e quando encontra terreno fértil ela domina o espaço. Em Jequié, mesmo considerando o trabalho nefasto das principais FM’s, ainda existe um certo equilíbrio entre as apresentações do chamado pé de serra e o forró eletrizado. Esta situação só mudará quando o poder público e a iniciativa privada entenderem que existe um mercado para o São João com aspecto mais tradicional. Tenho acesso a pesquisas que indicam que as pessoas querem um forro mais pé de serra. A indústria do entretenimento é mais poderosa que a decisão dos nossos governantes e empresários. JN: Você acredita que ainda é possível ter sucesso com os forrós de bairros, como exemplo do saudoso Forró do Agarrajão, no bairro Agarradinho (Urbis IV)? Benné: A cultura do São João hoje está mais para show. Ninguém quer mais na praça um sanfoneiro que não seja famoso. A estrutura com palco, sanitários químicos, policiamento, alimentação para equipe, logística, em cada bairro de Jequié é cara. Considerando que a praça da bandeira “pegou” não vejo como realizar, inclusive para atender distritos e povoados. Realizar um festejo junino com decoração adequada, estrutura, atrações, atendendo o município requer razoável quantia. Temos que acabar com o mito que o São João de Jequié é o maior da Bahia. Não é. JN: Você foi Secretário de Cultura de Jequié. Se pudesse voltar no tempo, faria algo diferente? Benné: Fiz – com uma equipe de qualidade – políticas públicas para cultura. Realizamos o São João Xangô Menino que considero um marco histórico cultural para Jequié. Fiz o máximo e jamais conseguiria fazer melhor quando como comandante e chefe contei com um prefeito fraco, comandado por Chalaças e Abaporus.