Ainda sobre Bibliotecas: alegrias e tristezas se entrelaçam, por Wilson Midley. Clique e saiba mais

03/03/2022

DE BIBLIOTECAS: ALEGRIAS E TRISTEZAS SE ENTRELAÇAM

Retornei às instalações da faculdade de direito da UniFTC em Jequié, a fim de cumprir o penúltimo semestre do curso. Entre as surpresas agradáveis, como o retorno do professor Byron Teixeira, o reencontro com os professores Antonio Henrique Almeida, além de Miguel Bonfim, todos participando de orientações no Núcleo de Prática Jurídica. Nos reencontros fui contaminado pelo entusiasmo da carismática e eficaz diretora, Milena Bahiense que, com as gentilezas costumeiras, cumprimentava a todos com sorrisos de boas-vindas. Perguntei se havia algum motivo, especial, para justificar o intenso brilho dos seus olhos e a contagiante alegria. Como resposta, conduziu-nos, silenciosamente, a uma nova ala da faculdade, onde foi construída a sala do júri, e, orgulhosamente, apresentou-nos seu novo espaço: a biblioteca. Alguém lhe perguntou o que, afinal significava, hoje, uma biblioteca, diante de tantas inovações tecnológicas, com a providencial divisão racional dos acervos físico e digital. Sem maiores explicações, levou-nos aos guichês de leitura, aos espaços de trabalhos coletivos, tudo muito confortável e operacional. Do aparato tecnológico ressaltou os fones de ouvidos, os autofones em profusão. Tudo palpável e com a eloquência de um discurso...

Como a biblioteca é lugar de gente, de gente aprendiz, de gente curiosa, e, como gente faz barulho, os equipamentos, de última geração, garantem, além de tudo, a importância do silêncio para a produção do conhecimento. É sabido o quanto a leitura possibilita encontros valiosos do leitor com os autores, sejam em obras físicas ou digitais. Ressaltem-se, assim, as bibliotecas como verdadeiros centros de promoção cultural e pilares educacionais da sociedade, como locais que oferecem aos leitores possibilidades de formar e ampliar pensamentos críticos e saberes miltifacetados.

Aproveito para destacar e aplaudir a visão do professor, então prefeito, Reinaldo Pinheiro, ao tomar a iniciativa de implantação em sua gestão, de uma nova e repaginada biblioteca, com orientação técnica da Fundação Pedro Calmon, ao adquirir um prédio emblemático na avenida central de Jequié. 

Retomo o tema  para destacar que a sensibilidade da professora Milena ganha ainda mais valor ao apresentar-nos o novo espaço cultural. Parece conter um recado primoroso: as bibliotecas, principalmente as de fácil acesso, em locais estratégicos de uma cidade, precisam ser preservadas e ampliadas, afinal a inteligência e a produção sensível de saberes são moedas de maior relevância nesses e noutros tempos: seu valor é impalpável porque é subjacente o seu papel social. Daí nasce uma das principais funções de uma biblioteca: ela é um instrumento de ascensão do espírito em constante evolução.

Alguém já comparou uma biblioteca a um amplo aeroporto, onde através de possantes bólidos, que são os livros, o usuário pode fazer longas viagens, conhecer as preciosas fontes de conhecimento em qualquer lugar do mundo. Mais antigas do que os próprios livros, quando os papiros eram arquivados em potes de argila, estas nasceram como lugares misteriosos, exclusivos a uma parcela bem pequena da população. Com o tempo, esses espaços foram se democratizando, dada a sua importância para os seres humanos em processo de aperfeiçoamento.

Assim, ressalte-se a relevância dos gestores de instituições ou municípios elegerem como prioridade esforços para instalação, ampliação e preservação de, ao menos uma biblioteca central a funcionar como verdadeiro vetor de desenvolvimento humano. 

Em Jequié, paira, na sociedade, um estranhamento generalizado com o recém ocorrido à Biblioteca Dr. Newton Pinto de Araújo: os líderes municipais, ao invés de reformá-la e expandir suas possibilidades de uso com a aquisição de variados equipamentos, preferiram a especulação imobiliária, desqualificando sua função precípua de estimular a formação de leitores, a pesquisa, a produção de renovados conhecimentos. Diante desse fato deplorável, a louvação pelo entusiasmo da professora Milena Bahiense: a biblioteca, de cunho particular, ao menos abranda a tristeza que ora acomete o jequieense que chora pela perda do precioso monumento cultural, a ferir o coração da cidade.