Professores com vasta experiência na área educacional, falam sobre o bullying.

07/10/2011

JN: O bullying é o assunto do momento na educação brasileira, contudo é algo existente há muito tempo nas salas de aulas. Em sua opinião, de que forma este problema deve ser tratado para que ele seja extinto? Completando a pergunta, geralmente as campanhas contra o bullying são focadas na vítima; da maneira que as famílias podem identificar, como tratar etc. O agressor também não precisa ter foco, para que as famílias identifiquem e conscientizem quem comete a agressão? 1 - Marcos Lopes: O bullying é entendido como uma ação de provocação e/ou intimidação contínua de uma pessoa ou grupo sobre outro indivíduo ou outro grupo. Está presente não apenas no ambiente escolar, mas na sociedade como um todo. Portanto, nossa sociedade apresenta valores socioculturais que contribuem para que algumas pessoas se sintam no direito de vitimizar outras. Esse grupo, considerado agressor, reforça a violência psíquica, verbal e física e, geralmente, não apresenta uma autonomia e alteridade que os possibilitaria reconhecer e respeitar a outra pessoa em sua singularidade e nas diferenças. Na maioria das vezes, pretendem demonstrar poder desejando estar numa situação de superioridade em relação aos demais e, com isso, querem se afirmar perante o grupo. Comumente, os agressores têm poucas discussões desta natureza em seu ambiente familiar seja ele qual for, o que contribui para que humilhem e violentem outras pessoas. Já os mais vitimizados, são pessoas, na maioria das vezes, com características físicas, sociais, culturais, de gênero, étnicas ou de orientação sexual consideradas como inferiores ou desviantes da “norma” social. Entendo que a escola, historicamente falando, preocupou-se essencialmente com os conhecimentos conceituais das diferentes áreas do conhecimento e pouco valorizou os conhecimentos procedimentais e, especialmente, os atitudinais. Precisamos debater e dialogar na escola os valores e atitudes sociais, culturais, políticos que estão presentes em nossa sociedade e que reforçam a aversão e o ódio nas pessoas, procurando desconstruir olhares discriminatórios, preconceituosos, contribuindo para melhorar as relações humanas por meio da resolução dos conflitos e pela cultura da não-violência seja ela de que natureza for. É relevante trabalhar não apenas com os aspectos cognitivos, mas também emocionais das crianças, jovens e adolescentes visando favorecer relações mais respeitosas entre as pessoas. Uma forma de lidar com tudo isso é a elaboração e execução nas escolas de projetos pela cultura da paz e pelos direitos humanos. Com iniciativas como essas, gestores, docentes, funcionários, estudantes e os familiares podem promover reflexões sobre os fatores que influenciam nesses processos de desumanização e fortalecerem a compreensão humana, a autonomia e a ética. Em relação aos agressores e as vítimas, é importante que a escola estabeleça parcerias com instituições que apresentem profissionais especializados, por exemplo, psicólogos e terapeutas, para que estes colaborem no apoio aos vitimizados e que auxiliem os agressores para repensar e rever suas provocações, intimidações e agressões. Obviamente que as famílias tanto de um quanto do outro precisam ser trabalhadas para que essas questões repercutam também nos espaços extra-escolares. Enfim, entendo que o trabalho na escola para diminuir a violência tem de ser assumido por todas as pessoas que ali vivem, o que exige também mudanças de pensamentos, valores e atitudes em prol de uma educação, de fato, humanista, inclusiva e emancipatória. Prof. Dr. Marcos Lopes de Souza é Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo. Mestre e Doutor em Educação pela Universidade Federal de São Carlos. Atualmente é Professor Adjunto do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Campus de Jequié), atuando no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas e no mestrado em Educação Científica e Formação de Professores. 2 - Ana Angélica: Realmente esse assunto como tantos outros vêm sendo discutido nas escolas, e na sociedade percebemos que esse tema está intimamente relacionado com outro assunto muito antigo na história da humanidade que é o preconceito de todas as formas, tanto o bullying como os diferentes tipos de preconceitos não podem ainda serem extintos, pois não temos uma sociedade bastante esclarecida e educada para não termos essas atitudes. Sabemos que a formação do individuo percorre um longo caminho desde a fecundação até a idade adulta. O primeiro ambiente de formação é a família e em seguida a escola e a comunidade onde o individuo está inserido. Não dá para fazer uma discussão desse assunto de forma isolada tentando responsabilizar as famílias sem perceber o contexto social no qual estão inseridos tanto a agressor quanto a vítima. Acredito na educação como um dos caminhos para tornarmos a espécie humana mais humana. Essa frase é redundante mais infelizmente temos que discutir e cada vez mais esclarecer as pessoas do seu papel na sociedade. Acho que as campanhas devem tratar da questão como todo (agressor e vítima). Dra. Ana Angélica Leal Barbosa é Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Bahia (1980) e Doutora em Ciências Biológicas - área de concentração em Genética (UFPR-2003). Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia desde 1982, sendo atualmente professora Pleno do Departamento de Ciências Biológicas no Campus de Jequié. 3 - Josmar Barreto: É difícil extinguir totalmente com o bullying, mas podemos proporcionar condições para minimizar o índice do referido fenômeno nas escolas. Por exemplo, podemos citar algumas medidas: A vítima do bullying passa por fragilidade psicológica, ficando magoada, atormentada, assustada, intimidada, excluída, sem esperança de tornar-se livre, podendo chegar a reações extremadas, como o suicídio. 1ª - A escola deve ficar de olho atento para o bullying e os bullies (pessoas que praticam o bullying), ou seja, identificar e saber como evitá-lo. Porque a escola além de proporcionar o ensino formal, deve cuidar e proteger seus educandos , ou seja, a escola deve além de educar no aspecto cognitivo, educar também para a vida , para a felicidade, objetivando o exercício da cidadania. 2ª - A escola deve ser um ambiente prazeroso, seguro e principalmente de respeito, portanto, a escola deve desenvolver projetos que contemplem as necessidades básicas do processo de ensino-aprendizagem, que são: “aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver juntos e aprender a ser”, ou seja, desenvolver projetos que trabalhem com as inteligências: cognitiva, afetiva, emocional e social dos educandos. 3ª - Acrescentar no regulamento interno da escola medidas preventivas para o bullying, e punitivas para aqueles que o praticam 4ª – Proporcionar condições para diminuir os danos psíquicos dos educandos que são ou foram vítimas do bullying Josmar Barreto é Biólogo formado pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – Campus de Jequié-BA. Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela PUC-MG, Psicologia Educacional pela FACDELTA e Teoria Psicanalítica e Sexualidade humana pela Faculdade Redentor-RJ e Psicanálista Clínico e Didata formado pelo Centro de Ensino e Pesquisa Psicanalítica –RJ e SPOB-RJ. Mestre em Educação pela Universidade Federal da Bahia-UFBA – Salvador/BA. Doutorando em Psicologia na Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales- UCES – Buenos-Aires-Argentina.