Professor Álvaro Ricardo dá uma aula de língua portuguesa. Confira!

12/12/2010

JN: No dia 10 deste mês o senhor recebeu o título de cidadão jequieense. Como se sente recebendo essa honraria após os 44 anos de atuação pedagógica em Jequié? Álvaro: É muito gratificante o reconhecimento da comunidade jequieense, através do Poder Legislativo, de um trabalho que venho desenvolvendo há várias décadas. Enquanto tiver saúde e força, continuarei a lutar em prol do engrandecimento da Língua Nacional, cada vez mais vilipendiada e ensinada mal na maioria das escolas. JN: Em sua obra recente está um livro sobre a nova ortografia. O senhor sempre foi um entusiasta deste novo acordo? Por quê? Álvaro: Meu nono livro trata da Nova Ortografia. É um estudo completo com numerosos exercícios. Não sou entusiasta, ao contrário acho que o Acordo Ortográfico é superficial, deixa muito que desejar. Teve como escopo corrigir divergências entre a ortografia nossa de 1943 e a de Portugal de 1945. A primeira tentativa ocorreu em 1931, sem êxito. A Lei 5.765 de 18/12/1971 procurou aproximar a ortografia dos dois países: eliminou o trema dos hiatos e o acento diferencial da maioria das palavras. Sem trema, por exemplo, saudade. Letra (substantivo), aquele (pronome), gota (substantivo), ele (pronome) etc. passaram a ser escritos sem o acento diferencial. Depois de 18 anos de muita delonga sai do papel o Acordo de 1990. O Brasil foi o primeiro país a implementar com a assinatura do Decreto 6.583, de 29.9.2008. Note-se, porém, que até 31 de dezembro de 2012 as duas formas serão aceitas. Muitas distorções, entretanto, não foram corrigidas, e outras formas apareceram sem explicação. Precisava ser mais abrangente e coerente. No Brasil, as modificações atingiram apenas a 0,5% de nossas palavras, enquanto em Portugal 1,6%. Há muita incongruência: herói (com acento), heroico (sem acento); Paraguaçu (continua com a grafia errada): o correto é Paraguassu (para = rio, mar; guassu = grande – verbete tupi-guarani; extenso com “x” e estender, estendido com “s”; embaixo (uma palavra só), em cima (duas palavras); bem-me-quer com hífen, malmequer sem hífen; paraquedas (sem hífen), para-choque com hífen; água de cheiro sem hífen, água-de-colônia com hífen e por aí vai. JN: Mais de 250 projetos de lei circulam no Congresso Nacional para inclusão de novas disciplinas na educação básica e no ensino médio no Brasil. Qual a sua opinião sobre esta questão, levando em consideração a estrutura geralmente precária das escolas públicas do país? Álvaro: No primeiro grau, não há problema nenhum. Em minha época, estudávamos desenho, trabalho manual, música, latim sem nenhum prejuízo para outras matérias. O segundo grau, entretanto, deveria abranger somente as disciplinas pertinentes a uma área específica, escolhida pelo aluno por antecipação; assim, caso se optasse por ciências exatas, o currículo daria ênfase a matemática, física, lógica, computação etc. Claro que a língua nacional, em qualquer situação, ficaria em posição de destaque, pois todas as pessoas devem expressar-se bem, falar e escrever com segurança. Quanto ao ensino público, de há muito que o Governo deveria ter melhorado. Somente assim se constrói uma nação. – O professor ganha pouco, para melhorar a renda é obrigado a uma carga horária excessiva. Não tem tempo para estudar, atualizar-se, assistir adequadamente os alunos! A demanda da profissão é muito grande. O que existe é falta de respeito ao profissional, mormente o de uma área importantíssima à formação dos cidadãos de um país. JN: Sabemos que o senhor também atua nas artes plásticas. Fale um pouco sobre essa paixão e onde as pessoas podem conhecer o seu trabalho. Álvaro: Herdei de meu pai a disposição inata para artes plásticas e literatura, enquanto minha mãe me conferiu dotes musicais. Há três anos logrei o primeiro lugar com o quadro Sapiência no Salão Regional de Artes Visuais, no concurso instituído pela Fundação Cultural do Estado da Bahia em parceria com a Secretaria de Educação e Cultura de Jequié. O trabalho foi analisado por Juarez Paraíso, professor emérito da UFBA, membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte, e por Virgínia de Medeiros, professora e mestra do Curso de Pós-Graduação do SENAC, Artes Visuais: Cultura e Criação. Pinto e toco às vezes para distrair-me sem maiores pretensões. Meus quadros não vendo, dou a pessoas amigas.