Jequié, eleições 2008: vitória de quem? Por Juliana Oliveira.

10/10/2008

Sufrágio universal, exercício de cidadania, palco da democracia... Muitas são as rotulações para as eleições, mas diante dos resultados encontrados nas eleições municipais de Jequié em 2008 não consigo evitar a sensação de estupor. No executivo teve-se a inoperância de uma oposição desarticulada e pretensiosa que mesmo valendo-se do apoio das esferas estadual e federal não conseguiu ultrapassar as barreiras dos “achismos” e exemplificações de propostas incongruentes e desconexas. Analogamente Heloísa Helena deve ter se engasgado em seus discursos inflamados diante de um resultado que não alcançou 2% dos votos válidos, e mesmo assim foi pontuado como votos de protesto... Mas contra especificamente o que? No seio da disputa, de um lado a soberba e a arrogância de quem continua vivendo no coronelismo, relegando a cidade a um curral. Intrigas. Vinganças. Até macumba entrou na história. Restou o fraco embasamento de um plano que embora dito participativo, a mim não convidaram, e a você? Espera-se do referido administrador o real exercício das funções inerente a essa profissão, a saber: organização, controle e, é claro, planejamento. Quanto a Câmara, seria cômico se não fosse trágico! Muita informação! Teve-se um único partido elegendo ¼ da bancada; incluindo a “herança” política de alguém que não diz a que veio, até por que não disse nada durante a campanha, escondendo-se em barras das calças. Suspeitas de campanhas financiadas pelo narcotráfico, expressas em carreatas gigantescas e em votação recorde. Bichos e fundações bancando campanhas. Maridos passando tropas em revista para contagem de votos. Secretarias liberando funcionários em horário de expediente para subir e descer ladeiras garimpando votos. Intimidações. Pressões. Quem não está com eles estão contra eles, e perderão seus empregos, seja contrato ou REDA ou serão remanejados para os efetivos. E a lista já ‘tá pronta! Bairros sem representatividade por 26 votos. Votos comprados: R$ 15,00 ou R$ 40,00, vale gás, camisas de candidatos e benefícios eventuais (cestas básicas). Culpa de quem? O dinheiro, esse velho vilão do sistema capitalista? Não só. Ganhou em Jequié a desesperança! Quando as pesquisas mostraram mais de 50% do eleitorado indeciso quanto em quem votar para vereador é o melhor indicador do descrédito da população para com a Câmara de Vereadores. Atuação e expressão políticas têm sido verbos que a muito Jequié não experimenta, se é que algum dia viu. Pleitear calçamentos de trechos de ruas ou implantação de semáforos e orelhões chega a ser ridículo de tão óbvio, para sustentar 4 anos de mandato. Todas as “cartas aos jequieenses” que entupiram a caixa dos correios de minha casa eram completamente iguais. Parece-me que uma gráfica fez um pacote promocional, mantendo o mesmo texto e alterando só as fotos dos candidatos. Em todas as áreas da vida em sociedade – saúde, educação, lazer, segurança, etc. – só havia o velho discurso de “captar recursos junto ao governo estadual e federal”, ou seja, nada! Porque da grande maioria desses programas de financiamentos Jequié, como as demais cidades do sudoeste baiano, não participa. Não há renovação, algo específico, em consonância com a nossa realidade e necessidades. Nada novo sob o sol! O eleitor está cansado da ineficiência, inércia, inexpressividade! Corrupção, oportunismo, conflitos! Para eles não há porque apoiar alguém, tomar partido, se quando eleitos os vereadores não dizem a que vieram. E não estou falando da ampla distribuição de cargos e colocações no cabide de empregos que se transformou a máquina pública; e muito menos da festa para poucos convidados que é a verba de representação. Assim, o eleitor que vendeu seu voto apenas achou nos meros trocados ou favores o motivo banal para uma justificativa. Não se trata de um candidato, alguém, especificamente, e sim de qualquer um, apenas aquele que chegou primeiro. Há chances de mudar? Como, numa cidade de pobres e famintos, sem acesso a serviços básicos como saúde e segurança, sem emprego, sem educação? Mas e quanto à renovação de 50% da bancada? Há algo novo? De onde eu vejo, não necessariamente. A não ser uma força que se diz jovem, emergindo nos braços do povo e com conseqüente carga extra de responsabilidade, desejando-se que não se perca na precipitação juvenil ou engolido pelo velho sistema. Por fim, só uma dúvida me atormenta: em 2012 reeditarei esse mesmo texto? Juliana Oliveira Economista E-mail: [email protected]