Especialistas jequieenses em educação e psicologia falam sobre ideologia de gênero.

21/10/2017

JN: O debate sobre a "ideologia de gênero" se intensificou no Brasil com a formulação do Plano Nacional de Educação (PNE), em 2014. Neste caso, a proposta do Ministério da Educação era incluir temas relacionados com a identidade de gênero e sexualidade nos planos de educação de todo o país. Qual a sua opinião sobre o tema?

 

Ana Luíza Prisco (Coordenadora Pedagógica / Psicopedagoga Clínica):

Estamos vivendo um momento na contemporaneidade de profundas transformações, onde todos os valores estão sendo revistos, redimensionados e, muitas vezes, desestruturados.

Estamos lidando com uma geração que também passa por essas transformações desde o formato de suas famílias até a Revolução Tecnológica. Portanto, a escola não pode ficar de fora desse formato novo de sociedade sem discutir de forma educativa seus avanços e seus equívocos.

A questão de gênero não poderia ficar de fora. Até porque vivemos uma época em que todos tem acesso a todo tipo de informações e opiniões nas redes sociais. Os nossos alunos nos trazem modismos e comportamentos impostos por essas redes sociais.

Portanto, assim como a educação para a sexualidade, a questão de gênero deve também ser discutida pelos profissionais da educação de forma filosófica, ética e científica. Pois se as escolas se eximirem dessa discussão, deixaremos os nossos alunos à mercê das mídias, que tem trazido essa questão de forma irresponsável e incentivadora.

Aqueles que condenam esse tipo de abordagem nas escolas estão profundamente equivocados. Pois são exatamente as instituições de educação que estão aptas a conscientizarem as crianças e adolescentes de forma equilibrada e séria, orientando suas escolhas dentro de um padrão de comportamento equilibrado.

Dentro desse entendimento, quando a proposta de discussão de gênero nas escolas é levantada, não se trata de incentivar as crianças e adolescentes a adotar comportamentos homoafetivos; não se trata de incentivá-los a experimentar outras formas de sexualidade; não se trata de ir contra os valores transmitidos pelas famílias e religiões. Trata-se de educá-los para analisar com entendimento, maturidade e consciência, uma questão que está posta nas novelas, nos programas de televisão, nos vídeos que são veiculados no facebook e no whatsapp de forma irresponsável e a qual, fatalmente, eles terão acesso.

Portanto, apesar de ser um assunto ainda espinhoso, nós que estamos vivenciando o dia a dia das escolas percebemos esses meninos e meninas desorientados em relação a esta questão, na sua grande maioria carentes da presença e da orientação familiar e nos resta descobrir formatos de educa-los para que suas escolhas sejam equilibradas e amadurecidas no tempo certo.

 

Sueli Magalhães (Psicóloga)

Considero importante responder a esta pergunta utilizando a própria chamada feita quando afirma que o debate sobre a “ideologia de gênero” se intensificou no Brasil. Na verdade, percebemos que em nosso país ainda não foi devidamente estabelecida uma cultura voltada ao debate saudável e dialógico que um tema tão delicado enseja.

Estamos acostumados a receber as Leis e decisões importantes de forma muitas vezes impostas e pelo viés dos ideais da política ou da mídia. Neste sentido, sinto que existe uma falta de esclarecimentos e de propostas sólidas tais como seminários, encontros, documentos, fóruns, leituras acessíveis, enfim, mecanismos transparentes capazes de indicar os pontos positivos e os negativos desta proposta.

O discurso acabou sendo polarizado, deixando-se sobressair os aspectos ideológicos de acordo com o viés da religião, da política, dos interesses de grupos em ambas as partes, enfraquecendo o diálogo saudável em nome de condutas impositivas e muitas vezes intolerantes.

Acredito na educação como ponto de fortalecimento para uma sociedade voltada à garantia dos direitos humanos, igualdade de gênero, erradicação da discriminação e violência motivadas por gênero. Num país onde os índices de feminicídio são tão alarmantes e assustadores faz-se imperioso que as escolas, as igrejas, a sociedade enfim, discuta e proporcione às crianças uma formação de valorização e quebra de paradigmas da dominação do masculino sobre o feminino.

Portanto, o tema precisa ser debatido com maturidade e transparência, desvinculando-se das ideias manipuladoras e de interesses também ideológicos associados à crença, dogmas ou políticas, garantindo-se acesso democrático à população acerca dos seus reais objetivos. Assim procedendo, que sejam feitas as mudanças necessárias e aproveitadas aquelas que nos fortaleçam no cumprimento de preparar nossos filhos/alunos para o efetivo desempenho da cidadania, capacidade crítica e de escolhas, para que tenhamos de fato uma sociedade voltada aos valores de justiça, menos violência, igualdade e respeito entre os sexos e, principalmente, capacidade de dialogar com a diversidade de forma mais civilizada.

 

Silze Miranda (Psicóloga):

Teoricamente a “ideologia de gênero” afirma que ninguém nasce “homem” ou “mulher”, mas que cada indivíduo deve construir sua própria identidade, isto é, seu gênero ao longo da vida. “Homem” e “mulher”, portanto, seria papéis sociais flexíveis que cada um representaria como e quando quisesse.

Profissionalmente falando, a teoria de gênero não apresenta respaldo científico e a sua inserção no meio das crianças vem para desconfigurar a identidade de cada uma, pois é uma teoria que despreza a determinação biológica do sexo para conceber a idéia de que ninguém nasce homem ou mulher. Outro reflexo desta teoria é a desconstrução da idéia e valor de família natural. Além de afetar o desenvolvimento da sexualidade das crianças e adolescentes, pela erotização com exposição de imagens e vídeos de ato sexual, entre outros.

Trabalhar a questão sexual nas escolas, ensinar sobre reprodução humana, órgão humano, não existe nada de errado, desde que esteja dentro do que é base científica e seja respeitada por faixa etária.