Baterista jequieense Beto Martins fala da sua trajetória no mundo musical.

13/03/2014

JN: Há um bom tempo você saiu da sua cidade natal com destino a Salvador, participando de bandas, vivendo num universo musical. Conte um pouco da sua história para aqueles que não a conhecem. Beto: Sou nascido e criado em Jequié, moro em Salvador há 11 anos. Passei por diversas experiências ainda em minha cidade natal, tocando com cantores de MPB, bandas de Rock, Baile, Axé, Forró e alguns outros estilos de música. Isso foi muito importante na minha formação e sou muito grato aos meus amigos Marcos Belchote, Shau, Jhoren Roll, Léo Correa, Renan, Neubera, Adson Sodré, Ronaldo Lima, Allan Borges, Fabricio Sanches, Junior Bléa, a Família Morbeck, as banda Embalo 4, Cangaia e muitos outros que me presentearam com suas experiências de vida e talento. Em Salvador toquei e/ou gravei com diversos artistas e bandas, podendo destacar: Allen Hinds (Guitarrista Norte Americano), Orquestra Afro Sinfônica, Belô Veloso, Netinho, Jammil e uma Noites, Luciano Calazans, Ricardo Silveira, Emerson Taquari, Gilmelândia , Cangaia, Estakazero , Terra Samba, Voadois, e muitos outros. JN: Como surgiu a vontade de tocar bateria, houve alguma influência musical? Você tem vontade de tocar com alguém ou alguma banda em especial? Beto: Meu interesse por música surgiu muito cedo, pois tinha um tio que sempre saia de Minas para visitar minha família e sempre acabava levando seu violão e tocando em minha casa. Ainda por volta dos meus nove anos ele me presenteou com um pequeno violão. Aí comecei “meio que só”, com a ajuda de revistinhas. Passava horas na porta de minha casa com Gilmar “Porrada” tocando violão. Lembro-me que ele me ensinou os primeiros acordes naquele instrumento, mas hoje acredito que ele não deve saber mais um (risos). É uma longa história, mas o resumo foi que em um dia muito triste para nossa família, dia que esse meu tio (do qual eu herdo o nome) faleceu. Seu filho me deu uma bateria que ele já não usava mais. Depois daí, parei de tocar nas latas “armengadas” por meu amigo Silvão e passei a tocar em uma bateria ainda muito simples, mas digamos que “de verdade”. Depois de um tempo, comecei a ver grandes amigos bateristas tocar, e passei a saber que existia a possibilidade de” viver” daquele instrumento. Os primeiros bateristas que vi tocando de perto foram: Son Borges, Luciano Fufú e Serginho De Boca, que eram os faróis que nos guiavam na época e que até hoje tenho profundo respeito e admiração. Lembro que ficava assistindo eles tocando e pensando, será que um dia eu vou conseguir tocar assim? Depois de um tempo já estudando como autodidata e tocando quase que com todos os músicos da cidade, comecei a sentir a necessidade de estudar fora, já que em Jequié ninguém lecionava na época. Logo em seguida conheci o baterista e hoje grande amigo – jequieense - Benedito Sena. Depois daquele momento tudo começou a mudar de verdade. Bené me deu cd’s, me mostrou grandes bateristas e métodos de bateria que me servem até hoje, apresentou-me ao seu professor em Salvador, com o qual fiquei tomando aulas durante quase 3 anos. Recordo-me que juntava todo dinheiro que ganhava tocando e ia pra Salvador fazer minhas aulas. Lembro-me também que muitos me criticavam, diziam que eu era maluco, porque música não dava dinheiro e que eu ficava saindo de Jequié para estudar em Salvador, que gastava tudo com aulas e instrumentos. Ainda bem que tive uma boa criação e soube logo cedo dar valor as coisas que acredito que realmente nos fazem bem. Hoje tenho amigos que ganham mais que eu, outros menos, mas que muitas vezes tiveram que se encaixar em profissões que não lhes dão nem um “pingo” de prazer pra sobreviverem, e o maluco aqui conhece todos os estados do Brasil, já fez turnês por quatro continentes, tudo isso ganhando, não o que acho que mereço, mas volto pra casa e ainda pago as contas. (risos) JN: Você já passeou por diversos ambientes midiáticos, como por exemplo, no Programa do Jô, Faustão, Caldeirão do Huck, Xuxa e No Mais Você, da Rede Globo de televisão. Como isso age sobre a sua visão profissional, sobre seu trabalho? Beto: Olha, já fiz programas de diversas emissoras, e sei da importância midiática da Rede Globo, mas não tenho muita noção do quanto isso agiu sobre minha visão profissional. Sei que essas aparições em emissoras tem uma influência absurda em relação a venda de shows das bandas, em vendas de disco e etc, mas acredito que diretamente com o músico nada de extraordinário aconteça. Achei ótimo participar, o clima nos programas geralmente são tranquilos, pude perceber que os apresentadores têm autonomia nos programas e que trabalham mais do que imaginamos. Lembro-me que no dia que gravamos o programa de Fátima Bernardes, estava tendo o maior temporal no Rio e chegamos no Projac as 6 da manhã, assim que passei da portaria, uma mulher segurando um guarda-chuva falou assim para o porteiro: “Era pra eu chegar antes, mas devido há esse temporal eu me atrasei - não tive nem como pegar minha filha que estava dormindo na casa da colega. Quando olhei direito, percebi que era a própria Fátima. Eu estava morrendo de sono, meio mal humorado, aí pensei assim: Se ela está atrasada as 6 da manhã para um programa que vai ao ‘ar” as 10, que horas ela deve chegar aqui todos os dias? JN: Jequié é rica quanto aos seus filhos da terra quando o assunto é arte, música, literatura, teatro etc tanto do passado quanto do presente. Como se sente quando você diz que é jequieense? O que acha que falta em nossa cidade para que essa dádiva seja ainda mais explorada? Beto: Quando alguém me pergunta onde eu nasci, respondo: Na terra de Wally Salomão! Sou muito orgulhoso de ter nascido e me criado em Jequié, fui embora no momento que jugava certo, porque sabia dos problemas que iria encontrar, mas por questões geográficas. Precisava de um grande centro, como tinha ainda um certo medo de São Paulo, resolvi ir para Salvador. Hoje por ter muitos amigos músicos em Jequié, tenho certeza absoluta que fiz a coisa certa, pois acho que boa parte da população jequieense não valoriza os artistas que aí estão. Também acho que existe falta de preparo no meio artístico jequieense, quando falo “falta de preparo” refiro-me mais a parte administrativa. Não vejo muitos artistas engajados em projetos culturais, movimentando a cidade, aproveitando melhor as leis de incentivo. JN: Você está concluindo o projeto Música sem Fronteiras. De que se trata esse novo trabalho? Beto: O Projeto terá três etapas, um CD que será lançado agora em abril, um DVD em Estúdio, que já foi gravado e estamos na parte da edição das imagens e um livro que conterá todas as partituras das músicas e um CD sem as baterias, para que bateristas possam tocar junto com as músicas. O álbum "Música sem Fronteiras" tem uma forte bagagem brasileira, mas sem perder a oportunidade de passear pela música de alguns lugares do mundo. Como o próprio título se apresenta, "música sem fronteira" é a minha visão como compositor e instrumentista brasileiro que em viagens acabei me influenciando por músicas locais, fazendo com que mudanças acontecessem tanto na instrumentação quanto na composição propriamente dita. Com composições que unem o Frevo Pernambucano ao Jazz; a música afro-Brasileira ao gênero pop africano (African-pop), o Alujá as violas de samba Xula da cidade de Santo Amaro da Purificação-BA; o Baião de Luiz Gonzaga ao chorinho, a música da Bahia a música cubana e muito mais. O cd conta com participações especialíssimas dos baixistas Arthur Maia (Gilberto Gil), Thiago Espirito Santo, Ney Conceição (João Bosco/Elba Ramalho), Ronaldo Borges (Carlinho Brown); dos Saxofonistas Marcelo Martins (Djavan/ Ivan Lins); Junior Maceió (Ivete Sangalo), Marcelus Leone, Eric Almeida, Vinicius Mendes; do trompetista Joatan Nascimento (Caetano Veloso); dos Pianistas: Marcelo Galter (Daniela Mercury), André Magalhães (Carlinhos Brown), Juliano Valle e Bruno Aranha; Dos percussionistas: Ricardo Braga (Rumpilezz), Cacau Alves e Junior Genásio; Guitarristas: Luciano Magno (Dominguinhos/Solo) e Leo Brasileiro, Niko Hatz e muitos outros músicos. JN: Daqui para frente, qual o seu sonho? Beto: Tenho um sonho de infância de estudar nos Estados Unidos. Já tive a oportunidade de conhecer a Berklee College School em Boston, vamos ver se consigo realizar mais um sonho, o de morar um tempo e estudar por lá! (risos)