Uma sinhazinha nos trópicos. Por João Valci.

16/08/2011

Continuamos sendo, lamentavelmente, a velha servilidade tupiniquim de 500 anos atrás, com uma única diferença de vestirmos jeans americano e usarmos perfumes franceses como marca inexorável de que após tanto tempo aprendemos a ser cult no grand monde. Na semana passada recebemos a título de intercâmbio cultural uma bela e nobre estudante germânica que veio “aprender” a linguística lusitana – última flor do Lácio – em solo tupiniquim. A exemplo dos índios cabralinos, já ali na carta de achamento de Pero Vaz de Caminha, ironicamente descritos como aborígenes, isto é, representação primitiva de uma raça inferior e de uma cultura cujo costume em evidência, a nudez desavergonhada, já corroborava aspectos irrevogáveis de uma sociedade em atraso social, cultural e político, em detrimento de uma expansão mercantilista que movia uma novo modelo econômico. Desta forma, surge desse espírito subserviente nossa característica intrínseca de admiração excessiva ao mito do estrangeiro – elevado pela própria natureza – acima da linha do Equador. Assim, tal qual apesar de afastados do tempo, não porém do espaço, transformamos em alienígena nossa germânica colegial. A maneira estarrecedora como nossos educandos a viram, cheiraram, tocaram e sentiram denunciam nosso espírito servil de quem se encanta com a imagem refletida no espelho. E, pior, aos olhos nus termos que infelizmente concordar com o antropofágico Oswald de Andrade quando diz que entre a Europa e o Brasil existe um atraso cultural de 500 anos. Talvez, justamente por essa subserviência histórica e previsível que a teuta-européia mostrou-se admirada ao saber que na residência da nova amiguinha tupiniquim tinha um computador e, mais, vejam só vocês, internet. Possivelmente frustrando-lhe os anseios de quem esperava deparar-se com os cipós de Tarzam por onde poderia livremente navegar por entre árvores tropicais ou até mesmo entrar na rede, não a social é claro, mas a de renda feita de bilros milenares dos pataxós. Deixo claro que não prego a xenofobia, a completa falta de educação e nem tão pouco o espírito canibalista dos arredios tupinambás, mas faço uma reflexão crítica sobre o comportamento retrógrado que está impregnado em nossa perpétua e mísera condição de colônia, de quem converte mesura em submissão, cortesia em vassalagem, nobreza em bajulação e colega em sinhazinha. A pobreza maior não é a escravidão em si mesma, mas principalmente o ato de desenrolarmos o tapete na eterna condição de escravo. João Valci Professor de Literatura do CPM – Jequié. E-mail: [email protected]