Prof. André de Jesus comenta resultado do ENEM e sobre a educação no país.

17/01/2015

JN: Entre os alunos que fizeram a prova do ENEM deste ano, 8,5% dos candidatos, ou seja, mais de 529 mil candidatos obtiveram nota zero na redação da prova. Numa avaliação superficial, o que você atribui esse resultado tão negativo? André: É importante, para melhor analisarmos esse cenário, registrarmos que a maior parte dos inscritos no ENEM é formada por estudantes concluintes do Ensino Médio. Em sua maioria, estudantes das escolas públicas estaduais, uma vez que compete aos Estados a oferta desse segmento. O pífio desempenho em todas competências aferidas no Exame, especialmente nas redações dos mais de 500 mil candidatos que zeraram suas provas no ENEM de 2014, revela aquilo que todos nós já estamos cansados de saber: a educação pública do Brasil está distante do que pode ser considerado como razoável. O resultado das redações do ENEM só oficializa que o nosso País é pobre em leitura. Ninguém consegue escrever bem se não possuir o hábito de ler e desenvolver a capacidade de realizar uma interpretação crítica. Daí não é difícil identificar que o insucesso dos estudantes do Ensino Médio brasileiro começa lá na base, na Educação Infantil. Falta estrutura às nossas escolas, soma-se a isso a desvalorização da docência, que por sua vez favorece a fragilização da formação dos nossos professores. JN: Hoje em dia é quase que impossível desassociar educação a internet. Se fossemos colocar na balança, você acha que ela com a sua gama de canais de comunicação ajuda ou prejudica a juventude no sentido do aprendizado intelectual? André: Ajuda muito. A internet é a ferramenta tecnológica preferida da geração "Z", a geração conectada. O problema, mais uma vez, está na Escola. Ela precisa acelerar a incorporação deste importante recurso tecnológico no processo Ensino-aprendizagem, transformando a internet em uma prática pedagógica. A internet, pela sua velocidade e capacidade de reunir várias opiniões e informações, é fundamental na formação do aluno crítico, curioso, autônomo e pesquisador. JN: Agora, todas as universidades e institutos federais terão que reservar 25%, ou seja, 1/4 das suas vagas para alunos das escolas públicas. Em três anos serão 50%. O preenchimento das vagas deve levar em conta ainda critérios de cor ou raça. Qual a sua opinião sobre esse assunto tão polêmico? André: A Lei das cotas, de fato, é bastante polêmica. Se por um lado ela é positiva porque se propõe a ser reparadora das injustiças sociais históricas, por outro, caso não seja conduzida com responsabilidade (sem interesse populista) ela pode comprometer, ainda mais, a qualidade do Ensino Superior no País. Não vai adiantar encher as universidades públicas de cotas se não houver políticas educacionais sérias e exitosas voltadas para Educação Infantil, para Educação Fundamental e para o Ensino Médio. JN: O atual governador da Bahia, Rui Costa, recentemente publicou um decreto que substitui Direcs por Núcleos Regionais de Educação. Nesse sentido, foram extintas diversas Direcs, que segundo o governador irá reduzir custos para o estado. Num primeiro momento, qual a sua avaliação do novo governo? André: Lamentável esta política do Governo Baiano, embora o exemplo maior esteja sendo passado pelo Governo Federal que anunciou um corte de 7 bilhões de reais no orçamento da Educação. No caso das Direcs é claro que vamos ter diminuída a capacidade de organização das escolas estaduais. Sendo esta a primeira ação do Governo Estadual relacionada à Educação, é claro que não nos anima. No entanto, torço para que o novo Governo tenha êxito para o bem de todos nós baianos. JN: Construindo uma grande hipótese, a qual lhe elege Secretário Estadual de Educação da Bahia, quais seriam as suas principais ações de governo? André: (Risos). Embora não tenha nenhuma pretensão, acredito que um dos caminhos seja aumentar o tempo de permanência dos jovens na escola, nesse sentido a alternativa é a educação em tempo integral (currículo escolar mais robusto e letivamente exequível). Na outra ponta, é necessário melhorar a estrutura das escolas, investir na formação do professor, implantar uma política salarial meritória com o objetivo de valorizar a categoria baseado nos resultados alcançados. Por fim, colaborar para diminuir as diferenças políticas que impedem que o Governo do Estado e parte das Prefeituras da Bahia trabalhem em sintonia na Educação, independente da bandeira partidária. ______________________ * Prof. André de Jesus é jequieense, formado em Pedagogia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Atualmente é Especialista em Gestão de Instituições de Ensino Superior. Consultor Educacional da Projetos Consultoria. Coordenador Geral do Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI - Feira de Santana-BA.