Multiartista jequieense Rico Ayade, fala um pouco sobre sua trajetória no meio artístico.

14/01/2020

JN - Além do seu dom pela música, você também possui o da escrita. Em qual dos dois você mais se identifica?

Rico: Primeiro, muito obrigado pelo convite dessa entrevista. Amo falar com vocês do Jequié Notícias sempre tão carinhosos e profissionais. No meu caso, por ser autor/compositor, a música e a escrita caminham sempre juntas. Acredito que a arte se completa em diversas esferas e na música principalmente. Ela é visual, é corporal e também é descritiva. Eu me considero um operário da arte. Não vejo muita diferença nos tipos de arte que executo. É como se a Arte fosse a senhora e eu o serviçal. O que ela manda, eu obedeço. É uma música? Vamos lá. É uma poesia? Bora também. É pra viver um personagem no teatro? Tudo bem.

 

JN - Recentemente você lançou nas redes sociais uma "marchinha" carnavalesca, o que lhe inspirou a criação?

Rico: Como todo bom baiano que se preze (rsrs) eu cresci amando o carnaval, tanto como festa, tanto quanto como manifestação da riqueza cultural do nosso povo. Apesar do tipo de música pelo qual as pessoas me conhecem ser mais rotulado como MPB, eu tenho múltiplas influências e vontades. E uma dessas vontades sempre foi de lançar músicas temáticas nas épocas das suas festas, como Carnaval e São João, por exemplo. As influências para essa canção, que se chama "Livre Leve e Love" e tem um refrão chiclete, são dos pagodões baianos antigos, tanto que o arranjo criado pelo Rabi Rodrigues (produtor musical, também baiano) relembra bastante esse tipo de som produzido na década de 90, sem tantos elementos eletrônicos comuns atualmente.

 

JN - Neste bom tempo de caminhada que possui no meio musical, os maus tempos da época inicial da carreira são águas passadas? Comente sobre o seu momento atual.

Rico: São 10 anos de carreira oficialmente na música e sei lá quantos anos não oficialmente já que canto desde criança. As dificuldades iniciais com certeza já passaram. O movimento é algo que sempre nos faz crescer e assim os cenários vão se transformando. Acredito que toda carreira tem suas dificuldades, porém quando falamos de arte, essas dificuldades podem ser ainda maiores, principalmente atualmente, num Brasil que, nesse último ano caminhou a passos longos para o retrocesso com um governo que se orgulha do fato indiscutível de ser inculto, violento e burro, que não só não incentiva a produção cultural, mas tem como pauta difamar e prejudicar todos os setores das artes e aos artistas. Ser artista tem sido sinônimo de ser herói. Essa é a nossa maior dificuldade no momento, vencer um governo fascista, e continuar levando amor e reflexão às pessoas.

 

JN - O que Jequié representa na sua história artística?

Rico: Jequié é meu amor. Passei os melhores anos da vida na cidade sol. As minhas raízes estão aí com toda certeza, nessa terra de gente de coração quente e arte na veia. Estou fora daí há muitos anos, mas trago daí a minha formação e muita saudade. Não sei como está hoje o cenário cultural da cidade, mas Jequié sempre foi um celeiro de artistas incríveis. Espero que estes continuem trazendo brilho e consciência à essa terra que eu amo tanto. Espero que o poder público invista em políticas públicas para dar chance à novos artistas ainda não revelados. Que a prefeitura valorize os artistas da terra e pensem em festivais de música, de cinema, de literatura, de dança etc, para dar palco, vez e voz a quem tem talento e porventura não tem oportunidade. A importância de um incentivo (que pro governo é pouco), pode transformar a vida de um artista, dando-lhe reconhecimento e perspectiva. Nossa cidade muitas vezes é nosso primeiro palco e que coisa linda é poder ver nossas próprias estrelas brilharem. Há espaço para todos e há se ter incentivo. E que venham novos e inúmeros talentos que não se possa contar saídos daí. E pra ninguém dizer que eu só "botei lenha na fogueira", eu me coloco à disposição dos órgãos (Prefeitura e Sec. De Cultura) caso queiram trocar uma ideia sobre eventos, projetos e festivais. Jequié não é a cidade sol à toa, esse solo é feito de estrelas. Contem comigo! E pra os jequieenses eu deixo um cheiro carinhoso. Quero muito ir tocar aí em breve porque tô doidinho de saudade!

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