Em 16 dias, Jequié chega a 12 homicídios. Por Fael Tevez.

17/01/2023

O ano de 2023 começou com a mesma onda que foi o ano passado. A Cidade Sol já figura entre as cidades mais violentas do estado com altos números de homicídios. Aqui eu abro um parêntese, destas 15 mortes, tem 6 que foram em resultado de confronto com as forças policiais. 

Não deveria, mas parece que se for ou comum ler notícias de homicídios na cidade. A maior parte destes, se não a totalidade, se referem a jovens com idade entre 15 a 29 anos. Um estudante da rede municipal de ensino, morador de periferia foi morto em resultado de uma operação policial. 

Em outros momentos, nossa sociedade estaria abismada, enlutada e entristecida com uma vida ceifada. Em outro momento, os poderes públicos iriam se manifestar para lamentar e tomar medidas para evitar que mais vidas fossem perdidas. Mas o que vemos hoje é uma inação por parte dos nossos representantes políticos. 

Algum tempo atrás, conversando com um antigo Coordenador do CREAS Medidas, ele me citou um dado triste. Entre os adolescentes que chegavam até a unidade para cumprir medidas, poucos eram os que não retornavam. Cumpriam a pena e voltavam a cometer delitos. Isso deveria ser debate na sociedade, como mudar essa realidade? 

Creio que o leitor diria para investir na educação, isso é válido e já é feito, mas o papel da escola é ensinar e instrumentalizar o estudante para a vida. Fora da escola, não há nada que os professores, coordenadores pedagógicos e direção possam fazer. Fora dos muros da escola, esse papel cabe a outros órgãos públicos. 

Por que não colocar em prática a Lei Municipal 1.254/2020 que cria oportunidade de emprego para jovens? 

Por que não criar mecanismos e programas para que os jovens de periferia não sejam cooptados pela criminalidade? O que o jovem da periferia quer (falo sobre a periferia, pois é onde se registra a maior parte destes homicídios) é poder ajudar com o sustento de sua família, não ter de ver seus pais, avós, tios ou seja lá quem cuida deles, desesperados por não ter o que comer, onde morar, como pagar as contas da casa. O jovem sente que precisa fazer algo para ajudar e como ele consegue isso? No mercado de trabalho as empresas exigem experiência em carteira, o jovem não tem por nunca ter trabalhado. O programa Jovem Aprendiz não consegue atender o elevado número de jovens que querem trabalhar. Conheço um jovem que se inscreveu no programa, ele era de periferia, nunca foi chamado pelo programa e foi cooptado pelo mundo do crime. Hoje ele está longe da cidade para não perder a vida. Muitas são as histórias semelhantes ou com fim mais trágico. Quando foi que perdemos nossa capacidade de indignação e passamos a achar normal um jovem perder a vida? 

Fael Tevez