Documentarista jequieense Dado Galvão fala sobre seus projetos.

22/07/2018

JN: Recentemente, a partir da Missão Ushuaia, estudantes da rede pública jequieense de ensino encaminharam cartas a refugiados Venezuelanos que estão no Brasil. O que compreende esse projeto Missão Ushuaia?

Dado Galvão: Missão Ushuaia, Venezuela é uma missão cultural e humanitária, idealizada por mim e formada pelo fotógrafo/ativista paraibano Arlen Cezar e o escritor, jornalista venezuelano Carlos Javier.

Tramita no Parlasul (Parlamento do Mercosul) projeto do parlamentar argentino Humberto Benedetto, que declara nossa missão de interesse cultural e humanitário.

Em novembro de 2015, enviei para Javier, por correio postal uma bandeira do Mercosul, que percorreu várias localidades da Venezuela, onde cidadãos anônimos, familiares de presos políticos venezuelanos escreveram na bandeira mensagens em defesa da democracia e dos direitos humanos. A bandeira se transformou em uma espécie de abaixo-assinado, é uma das primeiras ações concretas da missão. (veja fotos da bandeira na Venezuela).

Estamos documentando em foto e audiovisual todas as nossas ações para construção de um documentário (sem data para ser finalizado).

Em maio, realizamos mais uma ação concreta (exercício da cidadania Mercosul), com apoio dos professores do Colégio Público Modelo Luis Eduardo Magalhães de Jequié, incentivamos estudantes escrever cartas para os refugiados venezuelanos que estão em Roraima, mais de duzentas cartas foram escritas e entregues pela nossa missão em Boa Vista e Pacaraima na fronteira Brasil-Venezuela, em abrigos e praças públicas.       

 

JN: Como essas cartas foram recebidas pelos Venezuelanos? Como foi a resposta desse ato?

Dado Galvão: Os venezuelanos se emocionaram, choravam quando recebiam uma carta, recordavam da família e dos tempos de prosperidade que viveram na Venezuela, lamentando muito sobre a situação política, econômica e da ditadura instalada no país.

Quando entregávamos uma carta para um refugiado venezuelano, pedíamos que escrevessem uma carta para um parlamentar do Parlasul, as cartas serão entregues pela nossa missão aos parlamentares, como mais um gesto concreto de promoção da cidadania Mercosul. 

 

JN: Você é um documentarista bastante ativo na América Latina, produzindo diversos documentários. Como acontece toda a projeção; logística; custeamento? Fale um pouco dos seus trabalhos.

Dado Galvão: Quando realizei o documentário Conexão Cuba Honduras, e trabalhei pela vinda da blogueira cubana Yoani Sánchez ao Brasil, com ajuda do então senador Eduardo Suplicy, ganhei projeção internacional e mais notoriedade.

Eu Já tinha um histórico com documentários que contribuíram muito para estimular reflexões em defesa da vida humana.

A Fábrica, produzido para a Pastoral Carcerária da Diocese de Jequié, documentário que foi fruto de duas matérias com o premiado jornalista Roberto Cabrini, quando trabalhava na Band.

A Grande Moeda, produzido para a Pastoral da Criança da Diocese de Jequié, com a participação da fundadora da pastoral a médica sanitarista Dra. Zilda Arns (de saudosa memória), que esteve em Jequié para o lançamento do documentário.

Contribuímos também realizando o documentário Missão Bolívia, que alertou sobre o caso do senador Roger Pinto Molina, que recebeu asilo político do Brasil, e foi esquecido em um quarto da embaixada brasileira em La Paz/Bolívia, por alinhamento ideológicas da diplomacia brasileira no governo da então presidente Dilma, com o governo de Evo Morales.

Em 2016, ganhei o Festival do Minuto/ACNUR (Agência da ONU para Refugiados), festival que reuniu vídeos de até um minuto de vários países do mundo. Produzimos um vídeo na feira livre de Jequié, intitulado, "Ninguém fica de fora"/ "Nobody left outside", para falar sobre os refugiados.

É uma caminhada longa com temas complexos e independência para construir o discurso audiovisual. Para produzir contamos com ajuda de familiares, doações de passagens e hospedagens, geralmente de pessoas que conhecem o nosso trabalho e promovem vaquinhas.

Não é fácil mendigar para produzir. É o custo que pagamos para exercer o livre pensar de forma independente. 

 

JN: Uma pergunta simples e direta: como é ser documentarista em Jequié?

Dado Galvão: Localmente o apoio é só da família e de raros amigos. Um verdadeiro sacerdócio cinematográfico. 

 

JN: E para o futuro, o que vem por ai?

Dado Galvão: Estaremos na Paróquia Ascensão do Senhor no CAB em Salvador, que acolhe refugiados venezuelanos, levaremos a bandeira abaixo-assinado do Mercosul, para encontro com os refugiados acolhidos na Bahia e cartas escritas pelos estudantes do Colégio Modelo, incentivaremos que os venezuelanos escrevam cartas para os parlamentares do Parlasul, que serão entregues pela nossa missão.  

Dia 6 de setembro seguiremos para Montevidéu/Uruguai, onde seremos recebidos pela Comissão de Educação, Cultura, Ciência, Tecnologia e Desportos do Parlasul. Realizaremos na sede do parlamento dia 10/09, uma exposição fotográfica das nossas ações em Roraima e entregaremos aos parlamentares cartas escritas pelos refugiados venezuelanos que estão em Roraima.

Se conseguirmos os recursos pretendemos levar a bandeira abaixo-assinado do Mercosul, ao estado de Roraima.

Pretendemos entregar a bandeira abaixo-assinado do Mercosul, ao próximo presidente do Brasil ou ao próximo(a) ministro(a) das relações exteriores. Atividades da Missão Ushuaia poderão ser acompanhadas no endereço www.MissaoUshuaia.org. Facebook: https://www.facebook.com/MissaoUshuaia

Outras atividades:

www.DadoGalvao.org

www.MissaoBolivia.com

www.CicloOlhar.blogspot.com

Canal no YouTube (Dado Galvão) https://www.youtube.com/ClaudioGalvaoDado

Canal no YouTube (Projeto A Casa Caiu) https://www.youtube.com/projetoacasacaiu

Entrevista concedida a Record TV de Roraima, na qual Dado Galvão explica os objetivos da Missão https://youtu.be/GdtBKdG09fU

Foto: Arlen Cezar/MissaoUshuaia.